Lagoas de Iguatu, um ecossistema que merece atenção e cuidado

A cidade de Iguatu é muito conhecida por ser cortada pelo Rio Jaguaribe. A grande planície fértil é uma marca da nossa cidade e graças a esse fato já se destacou como grande produtor de algodão e tem sua história de povoamento em parte ligada à criação de gado que pastava nas margens do Rio.

Além disso, a cidade também possui várias lagoas, tanto no perímetro urbano, quanto no espaço rural. Essa semana, na MaisFM, você vai conhecer um pouco  mais das nossas lagoas; os problemas, o que tem sido feito, o que se espera para o futuro desses ecossistemas em nossa cidade.

Além da lagoa da telha, cartão postal de Iguatu, localizada no centro da cidade, e da lagoa da bastiana, que é cortada pela avenida perimetral e a Lagoa do Julião, na região oeste da cidade, Iguatu também conta com outras lagoas, menos conhecidas, mas também muito importantes. Como exemplos podemos citar a Lagoa do Barro Alto, a Lagoa do Quixoá, a Lagoa do Toco, no distrito de José de Alencar e a Lagoa do Algodão, no limite com o município de Quixelô. De acordo com Valdeci Ferreira, ex-secretário de agricultura, a Lagoa do Barro Alto foi o que permitiu a produção de arroz na região.

O ambientalista e mestre em desenvolvimento sustentável Paulo Maciel ressalta a importância ambiental dessas lagoas. Para ele, elas oferecem um “ar-condicionado natural” para a cidade. ‘Quando passamos pela avenida perimetral podemos sentir aquela aragem boa, aquela brisa agradável”, afirma.

Ele ainda ressalta que Iguatu é uma cidade privilegiada por ter naturalmente tantos corpos de água em seu perímetro urbano, citando o caso de Brasília, onde foram construidos lagos artificiais para dar mais conforto térmico à população da Capital. 

IMPORTANTES ECOSSISTEMAS

Muito além de beleza para a paisagem, as lagoas são importantes ecossistemas, abrigando inúmeras espécies de animais, como aves e peixes, que usam suas águas como refúgio. No passado as lagoas também foram uma importante fonte de alimentação para os primeiros iguatuenses, oferecendo um local de pesca, além do rio jaguaribe e garantiam a produção de grãos, como arroz, e capim para os animais em suas margens úmidas.

OS PROBLEMAS

Infelizmente a situação das nossas lagoas não é das melhores . Muitos problemas afetam esses ecossistemas tão frágeis. O primeiro deles é a falta de informação e respeito. 

Por não entender a importância das lagoas a população tem degradado e ignorado seu papel ecológico para a cidade.

O lançamento de esgoto é um problema claro. Além disso, o avanço da cidade sobre os terrenos de lagoa é outro problema que pode ter consequências ainda maiores para quem ocupa essas áreas. Durante o segundo semestre do ano são comuns incêndios na vegetação da lagoa da Bastiana.

Em bairros mais próximos dessas lagoas a população sofre por causa desse contato desarmonioso. Mosquitos e outros insetos são comuns. 

Nesses locais também o saneamento é mais complicado por estarem em locais mais baixos.

Outro problema claro, causado pelo avanço da cidade sobre as lagoas, é percebido quando chove: as lagoas são reservatórios naturais e acumulam muita água das chuvas até que ela escoe como deve. Quando a urbanização avança sobre as lagoas, como é o caso da lagoa da telha, que antes ocupava parte do centro da cidade, na época das chuvas o que se percebe são ruas alagadas e transtornos causados à população.

A PROTEÇÃO E O FUTURO DAS LAGOAS

Apesar de fazerem parte da nossa história e da realidade presente da nossa cidade, pouco se fez e se faz no sentido de proteger nossas lagoas.

A única lei específica no sentido de preservar esse ecossistema em Iguatu é de 1991, trata-se da lei municipal N°170/91, que cria a APA (Area de proteção ambiental da Lagoa da Bastiana) e que no dia 1º de outubro completa 24 anos. Mesmo depois desse tempo poucos resultados são vistos na área, como foi tratado na segunda reportagem dessa série especial.

A urbanização da lagoa da bastiana também faz parte de um ousado projeto datado de 2008, que, entre outras obras inclui o centro de convenções, mas que não virou realidade. O que se tem de fato na lagoa são galerias de águas das chuvas, as galerias de águas pluviais, sendo usadas para despejar esgoto na água.

A lagoa da telha, totalmente urbanizada, está em processo de reforma, mas o projeto da obra prioriza o embelezamento externo, sem dar atenção à limpeza da àgua da lagoa.

Na região oeste da cidade a construção civil tem crescido de forma intensa, com loteamentos ocupando áreas planas, para onde antes a água se espalhava, com a autorização da secretaria do meio ambiente, que segundo apurou nossa reportagem, segue as leis ambientais.

Um projeto antigo, mas que nunca saiu do papel buscava interligar e perenizar as principais lagoas de Iguatu, mas nunca saiu do papel. A ideia era utilizar água do açude Trussu para garantir que as lagoas não secassem.

Infelizmente, como se percebe, o futuro das nossas lagoas é incerto, já que elas seguem abandonadas pelo poder público e ignoradas por grande parte da população, que não parece dar a devida importância a esse patrimônio que foi fundamental para o surgimento da nossa cidade.

Mais que criar leis e projetos de proteção é preciso lutar para que eles saiam do papel e se tornem uma realidade. Enquanto a população silencia as lagoas vão morrendo lentamente, sendo aterradas e esquecidas, lembradas apenas no período das chuvas, quando os alagamentos se tornam uma realidade evidente e que poderiam ser evitados se a cidade tivesse mais cuidado com suas lagoas.