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DIVERSUS: Iguatu 170 anos

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Iguatu comemorou nesta semana 170 anos de emancipação. São quase dois séculos como cidade, e mesmo depois de tantos anos, ainda tentamos nos entender, nos conhecer, tentamos nos desenvolver e nos frustramos pelos poucos avanços e muitos recuos que continuamente sofremos. Afinal, por que ouvimos tanto que temos tudo para ser um pólo de desenvolvimento, uma referência na região centro sul e isso nunca acontece? Uma coisa eu posso afirmar: não é por falta de talentos e de pessoas qualificadas, aguerridas e dispostas a trabalharem para que isso seja uma realidade. Porém, o que sobra de iguatuenses dispostos a tornar isso realidade, falta de consciência coletiva e compromisso dos governantes locais. Temos acompanhado sucessivas administrações geridas por pessoas cheias de interesses pessoais e com total descompromisso com a sociedade e suas demandas.

Nos discursos eleitorais, promessas de ampliação de emprego, renda, desenvolvimento e progresso são usadas para atrair votos, mas nunca é explicado  como isso acontecerá, como sairá do papel. E assim observamos uma sucessão vergonhosa de desconhecimento da realidade material e uma série de teorias sobre um Iguatu que eles de fato desconhecem; falas cheias de suposições que alimentam o sonho dos iguatuenses e é revertido em ganhos eleitorais para esses grupos.

Continuamente se ignora que para que um município atraia capital privado ele precisa investir muito em serviços públicos. Sem boas vias, boas escolas, transporte público, boas universidades, bons hospitais, saneamento, não tem como atrair investimento privado. Nenhum empresário chega em uma terra devastada e acha boa ideia enterrar seu dinheiro ali. Temos sofrido os efeitos das políticas de austeridade vividas no país associado à ingerência de sucessivas administrações.

Passamos por este aniversário de Iguatu de forma triste, sem esperança, olhamos para o atual cenário e pensamos como chegamos até aqui. Não temos saneamento básico, não temos um sistema de coleta seletiva, um sistema de transporte público, nossa saúde pública é alvo de constantes denúncias e reclamações, não recebemos o hospital regional do centro sul, sendo a única região do Ceará a não ser contemplada. Nossa educação básica não atende à crescente demanda, funcionários públicos municipais são na maioria contratados, com trabalhos precários e salários atrasados, passamos por um período de especulação imobiliária que elevaram os preços de imóveis para venda e aluguel, de modo que nenhum pequeno empresário consegue pagar um aluguel absurdamente caro no centro de nossa cidade. Temos alugueis de prédios comerciais comuns, que cobram até 15 mil reais mensais; como um comércio local sobrevive e lucra pra pagar alugueis tão exorbitantes?

Nossa cultura foi desmontada, nossos espaços coletivos de lazer estão sucateados, destruídos e sem manutenção. Nunca recebemos o aterro sanitário que nos fora prometido, nosso meio ambiente é destruído com aval do poder público municipal, nossa cidade está ficando impermeável, estão aterrando todas as nossas lagoas em nome da especulação imobiliária. É uma cidade baseada no privado, no transporte individual privado, nos espaços de lazer privados, nas festas populares privadas. É uma cidade que segrega, uma cidade com arquitetura fria, com muitos autdoors e propagandas e pouca arte de rua, poucos murais, poucos espaços para a dança, o teatro, a música. Ostentamos uma vergonhosa e brutal desigualdade social, temos mais de 15 mil famílias passando fome, pessoas tirando alimento do lixo para comer, aumento de pessoas em situação de rua, aumento exponencial de crimes de feminicídio, diversas ocupações onde pessoas sem moradia não tem acesso a água potável e que moram debaixo de papelões.

Temos a maioria dos nossos trabalhadores e trabalhadoras na informalidade, com empregos precários, com jornadas exaustivas e sem expectativas de melhoras. Estamos vivenciando a tragédia do descaso e experienciando o quão alto é o preço do abandono. Eu queria de verdade celebrar Iguatu, mas não consigo; no entanto quero dar uma palavra de conforto ao povo trabalhador iguatuense, dizer que somos muitos e somos fortes, que tentam nos ignorar, nos segregar, nos enganar com migalhas, mas não conseguirão. Somos os filhos de Iguatu, que por opção ou não, decidiram ficar. Façamos juntos um grande pacto: Nunca mais nos submetermos a tão grande humilhação e abandono, nos levantemos para sonhar e construir um Iguatu melhor, um Iguatu de fato de todos e todas, um Iguatu coletivo, que seja acessível, que nos dê orgulho e que nos faça ter motivos para comemorar os próximos aniversários.

*Por Patrícia Santiago

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