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Garimpeiros começam a deixar terras ianomâmi

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Cerca de 300 garimpeiros já deixaram as terras indígenas ianomâmi desde a última quarta-feira, segundo soube a CNN Brasil de fontes da inteligência do governo roraimense. Eles começaram a fugir do território desde que o governo federal bloqueou o espaço aéreo para inibir a chegada de insumos aos invasores, como combustível, peças e alimentos. Vídeos compartilhados em redes sociais mostram os garimpeiros deixando a região a pé e pelo rio em barco lotado. No sábado, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, disse que esta saída sem a necessidade de uso da força policial era “melhor para todo mundo”.

Com o espaço aéreo fechado pela Força Aérea Brasileira no território, os garimpeiros que procuram por transporte enfrentam a inflação dos preços de voos clandestinos de helicópteros, que podem chegar a R$ 15 mil por pessoa. Segundo a Polícia Federal, parte desses grupos em fuga tenta fugir para a Venezuela e a Guiana. (Folha)

Durante o governo Bolsonaro, as Forças Armadas deixaram de atuar ou foram insuficientes para combater o garimpo ilegal no território ianomâmi em pelo menos sete ocasiões. Documentos aos quais a Folha teve acesso apontam as situações em que os militares acabaram favorecendo o garimpo ilegal na região. Em uma delas, a Polícia Federal teve de separar R$ 2,5 milhões de seu orçamento para os militares, que pediram o ressarcimento pelo empréstimo de uma aeronave para operações de retirada dos invasores da terra indígena, em 2022. Aquele foi o único dos três ciclos de operações realizadas no ano passado com a presença de aeronaves das Forças Armadas.

Uma criança ianomâmi de apenas um ano e cinco meses morreu ontem de desnutrição grave e desidratação, em Roraima. Ela estava em estado grave desde sábado, mas não pôde ser transferida para a capital Boa Vista por causa do mau tempo, que impediu a decolagem de aeronaves no local. A Defensoria Pública da União (DPU) critica a demora do governo Lula em aumentar o número de aeronaves e equipes de atendimento ao povo indígena. Em ofício enviado ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, o órgão avalia que o governo federal “não vem adotando providências com a celeridade que a conjuntura necessita”.

Aliás… 70% das vagas destinadas a médicos no território ianomâmi não foram preenchidas, segundo o Ministério da Saúde. Das 27 criadas pelo programa Mais Médicos, 19 estão vazias. A rotatividade desses profissionais no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y) tem sido alta. A média de permanência na região é de 322 dias para médicos formados no Brasil e 733 para graduados no exterior. Segundo levantamento feito pelo instituto Republica.org, das 19 vagas abertas por um edital em julho do ano passado, apenas uma foi preenchida.

Pudera. Com a violência no território próximo às áreas de garimpo, profissionais da saúde acabam desistindo de atuar nas terras indígenas. Uma médica que trabalhou 11 meses na região deixou o emprego por medo de morrer no local. Ela relata que “dormia na rede com facão. Nas aldeias próximas do garimpo, havia violência dos garimpeiros e dos indígenas, que eram cooptados. Víamos tiroteios. Em um deles, começaram a atirar mirando o polo de saúde. Tivemos de nos esconder no banheiro e pedir resgate”, conta.

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