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Estudo sugere que protistas podem se alimentar de vírus

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Uma equipe de cientistas coletou pequenos organismos unicelulares que flutuavam nas águas superficiais do Golfo do Maine e do Mar Mediterrâneo na Costa Brava, área costeira da Catalunha, região autônoma da Espanha. Classificados como protistas, esses organismos podem ser os primeiros que comprovadamente se alimentam de vírus.

“Seriam como organismos tão distantemente relacionados como árvores e humanos, ou ainda mais distantemente relacionados do que isso”, contou Julia Brown, autora principal do estudo e bioinformática do Laboratório Bigelow para Ciências do Oceano, no Maine, Estados Unidos. Ainda que a conclusão mais comum seja de que os vírus tenham infectado esses protistas, Brown e sua equipe entenderam, depois de muito pesquisar, que talvez os organismos haviam consumido o vírus como alimento.

No entanto, um cientista afirmou que o estudo publicado na revista científica Frontiers in Microbiology ainda não pode provar conclusivamente que esses protistas realmente comeram os vírus. “A detecção de sequências virais em células por si só dificilmente pode responder à questão de como essas partículas virais entraram na célula”, disse Christian Griebler, ecologista microbiano de água doce da Universidade de Viena, na Áustria. Griebler, que não participou do estudo, explicou que será necessário mais trabalho para mostrar como esses protistas engolem vírus e, se for o caso, qual o motivo nutricional por trás disso.

Como os protistas são eucariontes, ou seja, possuem núcleo para proteger o DNA, foi possível perceber que os organismos haviam absorvido DNA viral no passado. Segundo Griebler, isso pode acontecer porque, ao filtrarem a alimentação que flutua na água, os protistas podem acabar sugando vírus presentes no ambiente ou vírus que pegam carona em outras partículas minúsculas de matéria oceânica. Um exemplo são os vírus bacteriófagos, que infectam células bacterianas, as quais podem ser consumidas por protistas.

Para entender o que estava acontecendo, a equipe de cientistas coletou, no total, cerca de 1.700 protistas no Golfo do Maine e no Mar Mediterrâneo. Mais de 10 grupos diferentes de protistas foram identificados, sendo que os coanozoários e os picozoários foram predominantemente do Golfo do Maine. A etapa seguinte foi analisar o DNA associado a cada tipo de protista, o que poderia apontar para o DNA da própria célula ou de outros organismos eventualmente atrelados ao protista.

Como resultado, o DNA viral apareceu em cerca de 51% dos protistas do Golfo do Maine e em 35% do Mar Mediterrâneo. Como a maioria dos protistas do Mediterrâneo é bacteriófago, é provável que esse DNA tenha vindo de bactérias infectadas. Contudo, nos coanozoários e picozoários, mais comuns no Maine, 100% das amostras possuíam DNA viral, mas poucas tinham vestígio de DNA bacteriano. Portanto, isso indica que os protistas coanozoários e picozoários consumiram vírus individualmente, sem bactérias infectadas para fazer a ponte. “Vemos níveis elevados de vírus nesses dois grupos e consistentemente em todos os membros dos grupos”, contou Brown.

Descobrir que os vírus podem servir como alimento cria um nó crítico na cadeia alimentar que pode mudar a forma como pensamos o funcionamento dessa sequência. Ao comer vírus, os protistas podem causar efeitos em cascata em todo o ecossistema marinho, tanto limitando o número de vírus disponíveis para infectar bactérias quanto transferindo o DNA ou o RNA (ou ambos) para níveis mais elevados da cadeia alimentar.

Fonte: Olhar Digital

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