Ceará

Escavações serão realizadas no Maciço de Baturité para repor acervo do Museu Nacional

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Novas escavações serão realizadas no sítio arqueológico da Serra do Evaristo, no Maciço de Baturité, como uma tentativa de repor informações históricas perdidas no incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018. As descobertas consumidas pelas chamas revelavam parte do processo de ocupação do território cearense, datado de aproximadamente 700 anos. A pesquisa receberá investimento da National Geographic, instituição voltada para difundir conhecimentos de geografia.

O pesquisador Vinícius Franco, que estuda o processo de ocupação do continente sul-americano, irá dirigir as escavações. As pesquisas buscarão compreender questões relacionadas à formação e cronologia, delimitação, uso e função do espaço do sítio arqueológico, como também o processo de ocupação daquela região. O financiamento para a retomada das escavações foi conquistado em 2019, quando, após um rígido processo de seleção, a National Geographic premiou o projeto de doutorado de Vinícius Franco, intitulado “Novas perspectivas para as culturas pré-coloniais do nordeste brasileiro por meio de urnas funerárias”.

Ele já participou de outras atividades pelo Ceará: em 2012, cerca de 18 vasilhames foram encontrados na região. O estudo concluiu que houve atividades pré-históricas na área, no qual os indivíduos se alimentavam de vegetais como abóboras e macaxeiras. Material foi fornecido ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e possibilitou a abertura de um Museu na região e de cursos de escavação com moradores do Maciço.

Ele aponta que o Estado é um rico sítio arqueológico, com destaque para Baturité, por possuir áreas comprovadamente ocupadas desde a Pré-História. “O ambiente proporciona que a população permaneça, pois há água e uma certa quantidade de animais disponíveis”, explica Vinícius. “São paisagens que concentram essa riqueza e atraem esses grupos desde o período pré-colonial”.

No entanto, devido a pandemia de Covid-19, a instituição americana orientou que os trabalhos de campo somente aconteçam após o programa de vacinação nacional alcançar o patamar de 80% da população imunizada. O motivo é que o contato da comunidade que habita o local com pessoas externas pode ser um risco de transmissão do vírus.

Além disso, segundo o pesquisador, por conta da alta do dólar e da condição econômica atual do País, o projeto demanda um orçamento complementar. Segundo ele, a pesquisa poderia ser financiada pelo poder público ou pela iniciativa privada. “Fazer Arqueologia é muito caro porque você depende das pessoas, materiais, técnicas e métodos específicos de escavação”, complementa. “O Governo do Ceará ainda não se manifestou. Devido à pandemia, os valores previstos para anos atrás estão bem mais restritos devido a questão financeira”.

O projeto está em fase de revisão e em breve será encaminhado para análise na superintendência do IPHAN no Ceará, com vistas à aquisição de Licença de Pesquisa. Além disso, o sítio Evaristo I está inserido no topo de uma serra no mesmo lugar onde se encontra um dos Quilombos mais antigos do estado do Ceará, reconhecido pelo Instituto Palmares desde 2010.

A realização da pesquisa, para Vinícius, vai além do interesse público. “Se torna também de interesse da comunidade civil. Você começa a conhecer todo o ambiente do Estado e tem acesso a outros tipos de cultura”, expõe. “O estudo sobre esses estados consegue indicar quais vegetais esse indivíduo veio ingerindo por pelo menos 30 anos”.

O auxílio da população, inclusive, é peça chave tanto para o desenvolvimento da pesquisa quanto da economia da região do Maciço. O Museu criado na região após pesquisas anteriores em busca de vasilhames arqueológicos é uma comprovação dessa relação, segundo o pesquisador. “Tivemos de quatro a seis pessoas, antes envolvidas diretamente na pesquisa, que ingressaram na Universidade e cursaram graduações afins à Arqueologia. Acabamos movimentando e instigando a população a adquirir um conhecimento próprio”, comemora.

Incêndio no Museu Nacional

O fogo que atingiu o Museu Nacional, em 2018, consumiu praticamente toda a pesquisa sobre amostras de ossos humanos e de animais encontrados na Serra do Evaristo. Além disso, peças de cerâmicas e ossos de animais que viveram na pré-história, encontrados em território cearense e que estavam no museu, foram completamente destruídos.

“São amostras pequenas, retiradas dos ossos, que seriam analisadas para elucidação da dieta do grupo que ocupava a serra por volta do ano de 1.300. É um material bem significativo, que poderia ajudar a compreender o processo de ocupação do território cearense. Mas, temos expectativa de avançarmos nessas novas escavações e conseguirmos descobertas promissoras”, pontua Vinicius Franco.

Fonte: O Povo

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