Artigo

Entre Olhares: Omissão ou propósitos genocidas?

Published

on

Tenho observado nas Redes Sociais um verdadeiro clamor à bravura, civilidade, cidadania e disposição para o trabalho do Povo Nordestino, por estar voluntariamente, numa demonstração de Consciência Ecológica, “limpando no braço” as manchas de óleo que surgiram, há mais de 100 dias, nas praias da região. Arregalei os olhos! O que mais me assombra é a grande imprensa nacional mostrar este feito prazerosamente! O que me revolta é ainda não ter tido a notícia do posicionamento de autoridades públicas (de qualquer natureza) alertando esse povo dos riscos a que estão se expondo laboriosamente…

O tema “Poluição do Mar por Óleo” começou a preocupar a Organização das Nações Unidas – ONU – em 1950, com a criação da Organização Marítima Internacional. A Inglaterra, em 1954, realizou uma Conferência “Ad hoc”, com mais de 40 nações, resultando na elaboração da Convenção Internacional para Prevenção da Poluição do Mar por Óleo (OILPOL/54), posteriormente substituída pela MARPOL 73/78. Até agora, pelo menos umas 50 Convenções Internacionais, inúmeros Protocolos e Emendas já foram redigidas e ratificadas, envolvendo temas como a Segurança da Vida Humana no Mar, Proteção ao Meio Marinho, Transporte de Carga e a sua Facilitação (GONÇALVES & GRANZIERA, 2012).

Um dos recursos naturais estratégicos utilizados pela indústria do petróleo e gás natural é o mar, cuja superfície total é de aproximadamente 361,3 milhões de km²,o que representa 70,8% de toda asuperfície do globo. O volume total das águas dos mares é de 1.338,5 milhões de km³, ou seja, 93,9% da hidrosfera, que é composta de todas as águas do globo. Apesar do sucesso das medidas de controle e prevenção para diminuir o despejo de óleo no mar, estatísticas mostram que 3,441 m³ de óleo entraram no ambiente marinho entre 1967 e 2010, considerando-se todas as fontes.Felizmente, após vinte anos a contribuição de óleo para os oceanos diminuiu e atingiu a marca de 1,3 milhões de toneladas por ano. As embarcações de transporte de petróleo, que podem carregar mais de 500 mil toneladas de óleo cru de uma só vez, contribuem com uma quantidade significativa de petróleo e derivados ao mar (CORREIA, 2015)

Preocupei-me em estudar um pouco mais acerca dos impactos do petróleo na saúde humana. Os estudos relatados indicam efeitos em curto, médio e longo prazos, que abrangem saúde mental e psicológica, lesões de pele, de olhos, náuseas, dores de cabeça, até riscos de câncer, disrupção endócrina e riscos potenciais ao sistema reprodutivo de homens e mulheres. As populações estudadas, em diferentes pesquisas relatadas, foram: trabalhadores no controle do acidente e na limpeza das praias, ecossistemas e animais afetados; moradores da área afetada direta e indiretamente, inclusive crianças; trabalhadores cujos rendimentos dependem de recursos naturais afetados (pescadores e empreendimentos); turistas. Os efeitos são diversos em tipos e intensidades.

Altos níveis de stress psicológico foram observados em sobreviventes de desastres com petróleo, moradores das áreas afetadas, no Alasca há vinte anos e no estado do Alabama, EUA, após o acidente no Golfo do México de 2010, devido a preocupações com seu futuro econômico, com perdas financeiras, principalmente aquelas dependentes de recursos naturais, e preocupações com a saúde da população exposta. Efeitos de curto prazo: dor de cabeça, irritação na garganta, coceira nos olhos, cansaço, tontura, náuseas, febre, irritação na pele, dermatite, ansiedade, insônia, enxaqueca, problemas respiratórios, redução nos fluxos ventilatório e expiratório em expostos, efeitos tóxicos, machucados e ferimentos em trabalhadores no mar, lesões por efeito repetitivo nos trabalhadores na limpeza (RIBEIRO, 2012).

Efeitos psicossociais de médio prazo relatados: Ansiedade, Estresse pós-traumático,Estresse crônico (até quatro anos após), Depressão, Baixa percepção de saúde dos expostos,Desagregação social, maior vulnerabilidade de mulheres, maiores efeitos nos que trabalharam no controle e na limpeza, em pescadores, e naqueles com atividade econômica diretamente afetada. Vulnerabilidade relacionada à etnia e a aspectos sociais. Efeitos de longo prazo: danos genotóxicos por consumo de frutos do mar contaminados, baixo risco de efeitos teratogênicos para turistas, exceto mulheres grávidas, anormalidades endócrinas, possíveis impactos no sistema reprodutivo, efeitos adversos no sistema respiratório (RIBEIRO, 2012).

Contaminação dos frutos do mar: crustáceos e moluscos (camarões, caranguejos e ostras) são mais favoráveis à contaminação devido à velocidade reduzida de purificação biológica. No acidente do Golfo do México, berçário oceânico bastante produtivo e que fornece 60% dos camarões e 70% das ostras consumidos nos EUA, o órgão responsável pelo controle e segurança dos alimentos do país – FDA – fechou 37% de sua área (225.290 km²) para a pesca comercial e esportiva. Os efeitos reprodutivos podem ser resumidos: os hidrocarbonetos do petróleo aumentam o risco de aborto espontâneo em mulheres e podem piorar a qualidade do sêmen em homens expostos (RIBEIRO, 2012).

A exposição aos hidrocarbonetos de produtos petroquímicos pode induzir aberrações cromossômicas em animais e em humanos. Estudos mais específicos com os que trabalharam na limpeza do óleo, os efeitos agudos na saúde detectados foram: sintomas respiratórios, irritação nos olhos, na pele, dores de cabeça, náusea, tonturas, cansaço. Efeitos crônicos detectados: desordens psicológicas, sintomas respiratórios persistentes, efeitos genotóxicos, anormalidades endócrinas. Trabalhadores na limpeza podem ser afetados de duas formas: pelos efeitos tóxicos do óleo e pelas lesões e machucados durante a operação. As operações de limpeza são fisicamente muito trabalhosas, e os trabalhadores reclamam de dores nas costas (RIBEIRO, 2012).

O óleo é uma mistura de produtos químicos, dentre os quais os compostos orgânicos voláteis, que são a causa de muitos sintomas agudos, como as dores de cabeça, irritações de olhos e garganta, dificuldades de respirar, náuseas, vômitos e marcas na pele. Equipamentos de proteção, como roupas, luvas, máscaras e óculos e educação para segurança podem prevenir sintomas agudos nas atividades de limpeza, e a falta deles está associada a efeitos adversos à saúde. Percebe-se por tanto que as pessoas que voluntariosamente se prestaram a “limpar no braço” as manchas de óleo nas praias do Nordeste sem treinamento e sem Equipamentos de Proteção, expuseram-se a tudo isso.

E agora, com a palavra as autoridades públicas de saúde, as autoridades públicas do Sistema Judiciário deste país, as autoridades legislativas, os representantes do Povo, a grande imprensa nacional…

*Por Lúcio José de Oliveira

EM ALTA

Sair da versão mobile