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Entre Olhares: Olhar longe

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Tive o (des)prazer de assistir a uma apresentação sobre metodologias ativas em Educação proferida por um doutor que desenvolveu seus estudos na Finlândia. É incrível como a doutrinação produz enlatados sem sal, difíceis de digerir e pouco convincentes. O douto apresentador se portou exatamente como determinam as regras de um SAC: falar rápido; usar uma, única e mesma entonação de voz nasalizada; empacotar-se num terno e gravata; exagerar no uso do inglês. Afinal, é preciso impressionar e vender!

Não aguentei! Senti-me na obrigação de lembrar ao dileto apresentador uma passagem do livro Veias abertas da América Latina em que o autor coloca que apesar de também sermos americanos, somente os do Norte são reconhecidos como tal. Neste livro o autor coloca em detalhes como acontece o processo de empobrecimento nosso e de nossos conterrâneos ao sul do Equador. Como os colonizadores exploram e executam a espoliação de nossas riquezas. Como somos impiedosamente considerados animais inferiores cujas vidas não têm valores de quaisquer natureza.

Todas as técnicas, tecnologias e demais ferramentas pedagógicas apresentadas pelo dileto interlocutor essencialmente enlatados importados do Norte. À medida em que se aprofundava na sua apresentação, maior o entusiasmo pelos brinquedinhos pedagógicos da Terra de Satã. Não quero negar a importante contribuição que as metodologias ativas trazem para o processo ensino aprendizagem. Contudo, enxergá-las como a salvação aí, para mim, já um tanto exagerado demais. Precisamos alongar um pouco mais as nossas vistas e procurar enxergar outras possibilidades.

No livro A era do imprevisto, ABRANCHES (2017) afirma que “podemos ver o passado e compreendê-lo, mas não podemos alterá-lo. O futuro não é visível, mas podemos participar de sua construção”. Tenho plena convicção de que não podemos negar a nefasta intervenção eurocêntrica que fundamentou a nossa Colonização. Contudo, tenho mais convicção ainda de que podemos construir nosso futuro sem os grilhões, as amarras e os açoites que cortaram nossas carnes e nosso ser. Podemos sim construir um modelo educacional genuíno, aprendendo com nossos antepassados.

Lembrei ao nosso dileto interlocutor que no livro História da riqueza no Brasil, CALDEIRA (2017) nos faz retomar com muita propriedade o quanto somos descendentes da Cultura Tupy Guarany. Lembra-nos também como nossas heranças afrodescendentes (em especial da Cultura Yorubá) falam alto no nosso dia a dia; nos nossos costumes; nas nossas crenças; comportamentalmente. Tenho plena convicção que, dada toda esta herança cultural, se nos debruçarmos mais detidamente aos estudos dessas influências, certamente encontraremos a sonhada eficiência e eficácia no nosso Sistema de Ensino e Educacional.

O Século que passou foi permeado por um progresso fortemente disruptivo: Primeira Guerra, Revolução Russa, Crack da Bolsa em 1929, New Deal, Segunda Guerra, Revolução Chinesa, Reconstrução da Europa, Desenvolvimento Pós Guerra, Descolonização da África, Guerra do Vietnã, Movimentos Sociais da Década de 1960, Crise do Petróleo, Dívida do Terceiro Mundo, Neoliberalismo, Redemocratização na América Latina, Descoberta do DNA, Revolução das Tecnologias de Informação e Comunicação, Internet, Queda do Muro de Berlim, Globalização, Crises Financeiras Mundiais, mais uma Revolução Industrial.

Na esteira de tudo isso, nosso Brasil também deu passos largos e firmes. Mesmo com um Sistema de Educação e de Ensino combalido, sucateado propositadamente pelos gestores públicos entreguistas. Nossas escolas e nossos profissionais da Educação, apesar de todas as investidas contrárias, cumpriram a sua missão. Precisamos agora tomarmos ciência e resgate de nossas origens. Urge reconhecer o nosso passado, valorizá-lo. A partir dele, aprendendo as suas lições, podemos construir um futuro inimaginável, forte, imbatível, eivado pela liberdade, fraternidade, igualdade, ética, respeito, determinação e alteridade.

Sinto-me no dever de alertar aos incautos que muito e rapidamente se sentem seduzidos pelas prosopopeias tecnológicas do Norte, que existe vida, competência, criatividade e formas de pensar genuínas e compatíveis com a realidade vivida por nós que fazemos o Norte.

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