Entre Olhares: “O sonho ainda não acabou”

Sinto-me privilegiado, por que não dizer iluminado, quando lembro o momento em que decidi nomear esta Coluna de “Entre Olhares”. O instante político delicado que estamos vivendo obriga-nos a lançar inúmeros olhares, sob diversas perspectivas, para buscarmos um melhor entendimento do que de fato está acontecendo em nosso cenário político. Dia desses fiz uma alusão ao economista russo Kondratiev, relativizando os seus famosos CICLOS e a sua possível ocorrência na política nacional. Felizmente, não aconteceu. Os descendentes das velhas raposas oligárquicas do Brasil não conseguiram se eleger, em sua grande maioria, quebrando assim a continuidade do Poder Despótico.

Como enxergar este fenômeno? O quê, de fato, os resultados expressos pelas urnas mostrou e nos ensinou, após redesenhar a trama política partidária do nosso país? São necessários muitos olhares para a apreensão das diversas mensagens. Considerando as nossas dimensões continentais, não há como estabelecer uma simples relação de causa e efeito para explicar uma questão tão complexa. Ao mesmo tempo em que o POVO disse NÃO às oligarquias das famílias ilustres mal acostumadas a se locupletarem com as benesses do Poder Público, este mesmo povo disse SIM a um dos maiores ícones do Ruralismo Brasileiro, elegendo-o para Governador. Também pudera! A Região Centro Oeste é o berço do latifúndio nacional…

Querer explicar o posicionamento da Região Nordeste dizendo que a mesma depende do Bolsa Família é algo tão simplório e reducionista que não mereceria nem ser comentado. Os “Bolsões de Miséria e de Violência” fazem parte do cenário turístico de todos os Estados do Brasil. Dizer que se trata de uma região de ignorantes, é esquecer-se dos maiores vultos e baluartes, homens e mulheres de renome internacional, que somente engrandecem a Pátria Brasileira. O cenário perverso da Educação é à nível nacional, não especificamente da Região Nordeste. Com o meu olhar, vejo que os nordestinos demonstraram verdadeira gratidão. Só pra citar um exemplo: Transposição. Sonho acalentado por séculos, que somente um nordestino ousou realizar.

Qual seria então a explicação para o posicionamento do Estado do Ceará? “O Estado dispunha de um candidato nativo”. E por que os outros Estados que também dispunham de nativos como candidatos não fizeram a mesma coisa? Nosso Estado hoje é detentor de uma das melhores Redes Públicas de Educação; uma das melhores universidades particulares está situada no Ceará; a UFC está no rol das melhores universidades públicas do país, reconhecida internacionalmente; nossos estudantes são aprovados nos vestibulares mais concorridos do país, a exemplo do ITA, que conta hoje com a maior delegação de cearenses de sua história; o Ceará é um dos poucos entes federados que se encontra em situação de razoável equilíbrio fiscal.

Querer dizer que tudo foi obra e fruto das REDES SOCIAIS também é imaturo. Acredito sim na sua força e influencia, por exemplo, no caso da campanha NÃO REELEJA!. Pelos resultados obtidos, é razoável acreditar na influencia das REDES SOCIAIS. Contudo, por que não surtiu o mesmo efeito com a campanha #ELE NÃO#? Atos contundentes, da mais convicta representatividade foram realizados inclusive fora do país. Mesmo nos Estados que deram ampla maioria às forças retrógradas e antidemocráticas, a campanha #ELE NÃO# foi surpreendentemente estrondosa e barulhenta. Ou seja, “Oba, Oba!!!! não convence!”; não gera resultados práticos e objetivos. Foi assim, do mesmo jeito, com a campanha “NÃO VAI TER GOLPE!”. E o golpe já tá é terminando.

Os sulistas (RS) são os famosos SEPARATISTAS e NEONAZISTAS. Contudo, foram os catarinenses que quase unanimemente esmagaram democraticamente a nossa jovem, incipiente, frágil e conturbada DEMOCRACIA. Considero razoavelmente democrática a nova composição do Congresso Nacional que, com um verdadeiro jogo de cadeiras, reorganizou a representatividade partidária daquela Casa. Instigante também foi observar a visibilidade que foi dada a algumas siglas partidárias que muitos sequer sabiam da sua existência, levando para disputa em Segundo Turno, pela primeira vez, à ocupação do Cargo Majoritário de diversos Estados.

Só acredito numa reversão neste Segundo Turno se for deixada de lado aquela estratégia deplorável dos boatos e “FAK NEWS” e lançar-se profundamente numa campanha esclarecedora e educativa, com argumentos convincentes, propostas verdadeiras, realizáveis, nada de milagres mirabolantes, ir buscar, trazer e mostrar ao Povo do Brasil que ele é inteligente, consegue discernir, julgar e fazer valer a sua vontade, sem subterfúgios, quimeras, crendices e atos mitológicos.

Finalizando, caso seja ratificado o resultado da primeira votação, preocupo-me com o nosso futuro. A sensação que eu tenho é que o ungido pelo sufrágio universal, valendo-se de suas prerrogativas, inicie um tenebroso GOVERNO DE DECRETOS (já vivemos esta História macabra); imponha a nós (nordestinos) uma política de TERRA ARRASADA; imponha a EXCESSÃO em todos os seus atos. Qual será o posicionamento do Povo: aceitar; lutar; tomar de volta o Poder? Relembro um sonho do paraibano Ivanildo Vila Nova: “Imagina o Brasil ser dividido e o Nordeste ficar independente…”.