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Entre Olhares: Empatia

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Empatia se refere à capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, não sendo a sua definição ainda consensual. Em Medicina permite ao médico compreender melhor o doente, aumentando a satisfação deste último e a sua adesão ao plano terapêutico. No que se refere à evolução da empatia durante o curso de Medicina e primeiros anos de internato, existe predominantemente uma erosão da mesma, determinada pela sobrecarga do currículo atual, condições do local de estudo e trabalho, restrições impostas pelos sistemas de saúde, desgaste emocional que advém do contacto com a doença e a morte, e falta de bons mentores. Averiguou-se que o desgaste da empatia se revela principalmente a partir do terceiro ano do curso, e que o sexo feminino apresenta maior tendência para ser empático que o masculino. Devido à sua importância, é fundamental preservar a empatia dos estudantes e jovens médicos, evitando o stress e burn-out que influenciam negativamente a sua capacidade empática, e promovendo o seu bem-estar, tanto no campo profissional como no campo pessoal (SILVA, Helena Sofia Marques da. Empatia no Curso de Medicina e Internato Médico. Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina, Dissertação de Mestrado, 2017).

Recorri a esta dissertação por conta da necessidade que senti em discutir com vocês um assunto que considero da maior importância, seja do ponto de vista social, psicológico, pessoal, profissional, ou até mesmo familiar: “a saúde das pessoas do sexo masculino”, isso mesmo, masculino e independentemente da orientação sexual desta pessoa, se homo ou hétero. E o que fez com que eu me propusesse a levantar esta questão? Simples: uma operação de fimose! Após uma consulta com o meu médico (por conta de uma micose adquirida numa cama de motel), o mesmo me sugeriu de eu deveria operar da fimose. Nunca havia atentado para esta possibilidade. Contudo, depois de vários esclarecimentos com outros profissionais da área de saúde, tomei a decisão. No último dia 28 de agosto, fiz a intervenção cirúrgica. Fiquei impressionado com a quantidade de pessoas que vieram conversar comigo, relatando o seu verdadeiro sofrimento por conta de não ter coragem de tomar a mesma atitude.

Somente agora consegui chegar a algum entendimento em relação a isso. Ou seja, vivemos numa sociedade hipócrita, que vive das aparências, que valoriza o supérfluo, que não paga as nossas contas, no entanto, se sente no direito de impor regras comportamentais que levam as pessoas a se reprimir, a se esconder no armário, a não se sentir com coragem e disposição para, pelo menos, buscar informações e esclarecimentos acerca de sua saúde e seu bem estar. Lamentavelmente, quando se trata do sexo masculino, aí é que a coisa fica pior. Inconcebível para a Era da Modernidade e da Informação, nós constatarmos a ocorrência de pessoas letradas, pais de família, homossexuais atuantes nos mais diversos setores produtivos da nossa sociedade se confessarem inibidos de procurar um profissional de saúde para tratar de um assunto tão banal. Alguns chegaram a me relatar o fato de passar até mais de um mês sem manter relações sexuais com suas esposas por conta do incômodo causado pelas infecções frequentes da fimose.

Gostaria aqui de deixar um alerta aos pais, às mães, às tias e tios, avôs e avós, namoradas e namorados, esposas, professores e professoras, que procurem conversar com os nossos jovens, adultos e idosos, em especial os do sexo masculino, no sentido de que ponham à baixo qualquer tipo de tabu, fobia, medo, preconceito, vergonha, desinteresse e não deixem de procurar informações e esclarecimentos a respeito de seus corpos, de sua saúde física e mental. Considero de grande importância e necessidade que os diversos profissionais da área de saúde resgatem a sua empatia, apesar de todas as dificuldades, e ocupem os espaços públicos e midiáticos com campanhas de esclarecimento à população de uma maneira geral e, em especial, ao público masculino.

Nascer, crescer, estudar, ter um bom emprego, casar, instituir uma residência própria, comprar um carro (de preferencia de marca e modelo sofisticado), multiplicar, envelhecer e morrer. Estas são as regras básicas impostas pela sociedade do consumo, reforçadas pelas imposições ideológicas da teologia europeia dominadora e predominante. Como se a felicidade individual de cada ser humano tenha que ser imposta e predeterminada de fora, sem levar em consideração o livre arbítrio de cada um. Como consequência mediata, temos casamentos de fachada, famílias desestruturadas e infelizes, seres humanos morrendo de câncer, suicídio e, padecendo das mais diversas doenças físicas, sociais e psicológicas.

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