Ceará
Em seis anos, 309 árvores foram cortadas para obras em Fortaleza
Da janela do apartamento onde mora, na Av. Santos Dumont, a mudança de cenário é clara para o aposentado Marcílio França, de 64 anos. As grandes árvores que habitavam o canteiro central já não existem mais. Cederam espaço para uma via moderna e estruturada em prol do trânsito da região, restando de verde plantas ainda muito jovens, dispostas nas calçadas.
Para especialistas, uma troca não justa do ponto de vista ambiental, mas que vem sendo realizada de forma recorrente pela Prefeitura. Ao todo, 309 árvores foram suprimidas nos últimos seis anos em razão das obras de mobilidade urbana e acessibilidade. Para compensar, 2.694 chegaram a ser plantadas, de acordo com a gestão municipal. Já outras 2.876 estão previstas até o fim das obras da Avenida Beira-Mar. Os números foram obtidos pelo Núcleo de Dados do Sistema Verdes Mares.
Ainda na Av. Santos Dumont – onde acontecem obras de implantação do Binário com a Rua Lauro Nogueira – Marcílio se divide na opinião. Por um lado, elogia o melhor deslocamento proporcionado pela requalificação da via. Do outro, reclama do calor gerado pela retirada de 145 árvores. “A Avenida ficou muito útil pra gente, além de ter ficado bonita. Mas o tempo tá muito quente, já que as árvores antigas tinham as copas e amenizavam o calor”, afirma.
O aposentado tem esperança, no entanto, no sucesso das mudas já plantadas, apesar de algumas já estarem mortas. Até o fim dos trabalhos, o número de novas árvores no entorno deve chegar a 987, conforme balanço da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf). “Elas são aguadas todos os dias, mas acho que se tivesse um fertilizante poderiam melhorar, reagiriam melhor, pois o solo aqui é fraco e só água não ajuda”, soma o morador. Um exemplo recente de supressão vem da Av. Duque de Caxias, no Centro. Na semana passada, algumas foram retiradas do canteiro central em virtude do projeto do trinário com as ruas Meton de Alencar e Pedro I.
Necessidade
De acordo com a secretária de infraestrutura de Fortaleza, Manuela Nogueira, as árvores são retiradas apenas em casos de extrema necessidade, sendo plantadas, em média, quatro novas para cada supressão. O corte das plantas, conforme destaca, é respaldado por estudos técnicos, necessários para a obtenção das licenças ambientais. “Quando a gente entra com o licenciamento é requerido um monte de fatores, como a identificação das espécies, do estado da árvore. Algumas das 309 que foram retiradas por conta das obras estavam comprometidas, eram árvores que corriam o risco de cair”, diz.
A Autarquia de Urbanismo e Paisagismo de Fortaleza (URBFor) e a Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), ainda segundo Manuela Nogueira, acompanham o plantio e o transplante das árvores, para garantir que sobrevivam ao processo. “A URBFor tem equipe de agrônomos, o horto florestal, espaço para fazer o transplante, cuidar da árvore, tem replicação e o desenvolvimento de mudas. A URBFor faz todo o paisagismo, além da plantação de árvores. Eles têm toda essa competência de tratar, trabalhar e cuidar das árvores na cidade”, pontua a titular da Seinf.
A impermeabilização do solo, a redução dos volumes de água armazenados nos aquíferos e a perda da biodiversidade, estão entre os impactos diretos do corte de árvores e das construções que as substituem. É o que explica o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles. “No primeiro momento as árvores amortecem a energia das chuvas e o solo infiltra a água, que vai parar no lençol freático. O lençol freático tem uma reserva superestratégica de água doce pra sociedade, e aliado a essa perda de biodiversidade nós temos uma cidade que lança 50% dos esgotos nos sistemas hídricos”, diz.
Ainda segundo o especialista, o Plano de Arborização de Fortaleza, que segundo a Prefeitura municipal já promoveu o plantio de 100 mil novas árvores, não compensa as maiores consequências com a perda de cobertura vegetal por não construir bosques, estruturas responsáveis por alimentar o lençol freático. “São os bosques que controlam as chuvas, que dissipam as ilhas de calor. Essas árvores plantadas normalmente em calçadas e vias de acesso geralmente só têm aqueles quadradinhos para absorver a água. E essas áreas são extremamente impermeabilizadas”, diz.
Sobre a supressão na Av. Duque de Caxias, a Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (SCSP) disse que o diagnóstico realizado pela URBFor determinou a retirada de 15 árvores com qualidade variando entre ruim e regular. Outras 150 serão plantadas no lugar, afirma o órgão.
Fonte: Diário do Nordeste
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