Iguatu

Coluna: Bombeiros x SAMU

A vida e a história da humanidade estão repletas de impérios e de coincidências. O império das terras dos senhores feudais, o império do metal dos donos do capital, o império das tecnologias que revolucionaram as relações humanas… E foi no Império brasileiro, inspirados nos Sapeurs-Pompiers parisienses, que surgiu a primeira Corporação de Bombeiros, exatamente em 2 de julho de 1856 – Império de D. Pedro II. Coincidentemente, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU surgiu na França, utilizando-se da mesma sigla Service d’Aide Médicale d’Urgence.

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A vida e a história da humanidade estão repletas de impérios e de coincidências. O império das terras dos senhores feudais, o império do metal dos donos do capital, o império das tecnologias que revolucionaram as relações humanas… E foi no Império brasileiro, inspirados nos Sapeurs-Pompiers parisienses, que surgiu a primeira Corporação de Bombeiros, exatamente em 2 de julho de 1856 – Império de D. Pedro II. Coincidentemente, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU surgiu na França, utilizando-se da mesma sigla Service d’Aide Médicale d’Urgence.

Os primeiros bombeiros, surgidos na marinha, cuidavam dos riscos de incêndios (preventivamente) em navios e atuavam no enfrentamento ao perigo. Na França, o SAMU surgiu como central de regulação, objetivando coordenar os serviços móveis do atendimento pré-hospitalar no socorro a vítimas submetidas a riscos de morte, em razão de acidentes. Assim, Corpo de Bombeiros e SAMU surgiram para atender e servir. Segundo o Houaiss, atender significa ‘responder (a chamado)’; ‘receber, prestar socorro a’; ‘acudir, socorrer’. No mesmo dicionário, servir significa ‘trabalhar em favor de alguém’. Portanto, com a chegada do SAMU à Região Centro-Sul do Estado do Ceará, a população terá duas instituições voltadas para ‘o servir’.

O art. 144 da nossa Carta Maior assevera que a segurança pública é dever do Estado, mas, também, direito e responsabilidade de todos. Nesse diapasão, cabe ao Corpo de Bombeiros Militares, conforme inciso V do referido dispositivo legal, a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. No mesmo sentido, nossa Constituição Estadual, em seu art. 190, III, incumbe ao Corpo de Bombeiros, no âmbito estadual, a coordenação da defesa civil e o cumprimento, dentre outras, das atividades de socorro médico de emergência pré-hospitalar. O SAMU, regido pela Portaria Ministerial 2048, de 5 de novembro de 2002, atua em urgências e emergências pré-hospitalares e, nos dizeres do ministro Humberto Costa, ‘responderá às necessidades de nossa população, oferecendo a melhor resposta de pedido de auxílio’. Para o povo, grosso modo, pouco importa a diferença entre emergência e urgência. Objetivamente, o essencial é ser atendido depressa e com qualidade.

Da economia, aprendemos que as atividades se dizem complementares quando uma influencia positivamente na outro; concorrentes, quando as influências são negativas e, finalmente, mutuamente exclusivas quando a realização de uma exclui a realização da outro. A chegada do SAMU será complementar ao atual serviço prestado pelo Corpo de Bombeiros, pois, a menos que o texto constitucional seja modificado, também é nosso mister prestar serviços emergenciais.

Pensando dessa forma e acreditando que o mais importante é a prestação de bons serviços ao cidadão que precisará de auxílio nas ruas e nas próprias residências, lá na ponta dessa teia de recorrentes implicações, foi que montamos, no quartel do Corpo de Bombeiros de Iguatu, em parceria com a Universidade Regional do Cariri – URCA e Secretaria Municipal de Saúde, o Curso de Qualificação em Emergências Pré-Hospitalares. Parece-nos inimaginável a ideia de que a chegada do SAMU nos prejudicará, ou nos impossibilitará de continuar atendendo e servindo ao povo – não somos nem seremos concorrentes nem mutuamente exclusivos. Somos e seremos, na essência benigna do termo, parceiros.

Efetivamente, já formamos cinco turmas em Iguatu, com média de 30 alunos; uma turma em Icó, outra em Lavras da Mangabeira e ainda existem solicitações de outras prefeituras para a formação de novas turmas. O maior objetivo desse intercâmbio é a possibilidade real de atuarmos conjunta e harmoniosamente. Em sala de aula, trocamos ideias e conhecimentos; nas ruas, consequentemente, não seremos estranhos trabalhando em prol das vítimas, mas colegas, pessoas que possuem certa afinidade – todos dispostos a servir.

Portanto, se nas madrugadas frias da vida, ou nas manhas ou tardes quentes e caóticas das ruas das nossas cidades, encontrarem homens e mulheres sentindo-se felizes por trabalharem juntos, não será nenhuma coincidência, mas o império do bom relacionamento agindo em benefício da vida de todos nós.

 

*Nijair Araújo Pinto – Maj QOBM

Cmt da Seção de Bombeiros de Iguatu

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