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Cearense que foi preso por engano teme voltar a ser confundido

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Antônio Cláudio Castro enfrenta desafios na reintegração social, quatro anos após ter sua inocência comprovada em meio a acusações de estupro. Ele ainda luta para estabelecer relações sociais e, na maior parte do tempo, opta por ficar recluso em casa, evitando o contato com outras pessoas. “A vida não tem sido fácil e continua assim”, declarou.

Em 30 de julho de 2019, Antônio Cláudio foi liberado do Centro de Execução Penal e Integração Social Vasco Damasceno Weyne (Cepis), popularmente conhecido como CPPL V, em Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza, após cumprir cinco anos de prisão, sendo quatro deles em prisão preventiva.

“Infelizmente, sou apenas mais uma vítima da injustiça no Brasil, alguém constantemente humilhado. Eu tinha sonhos, mas agora, aos quase 40 anos, não posso mais realizá-los”, lamentou.

Em 2014, quando foi preso, Antônio Cláudio era acusado de ser o “Maníaco da Moto”, um criminoso responsável por pelo menos oito estupros em Fortaleza, cometidos contra mulheres entre 11 e 24 anos. Na época, uma menina de 11 anos afirmou ter reconhecido a voz do estuprador como sendo a de Antônio Cláudio, e outras vítimas posteriormente corroboraram essa acusação. Entretanto, ao longo do processo, todas as vítimas que inicialmente apontaram Cláudio como o culpado voltaram atrás em seus depoimentos, restando somente o testemunho da menina de 11 anos.

Ele foi condenado a nove anos de prisão em 2018 pelo crime de estupro de vulnerável, apesar de já estar preso preventivamente há quatro anos. No entanto, em 2019, evidências substanciais, obtidas pelo Innocence Project Brasil e pela Defensoria Pública do Ceará, mostraram que Cláudio tinha uma estatura pelo menos 20 centímetros menor que a do criminoso filmado por câmeras de segurança. Além disso, as vítimas descreveram o estuprador como tendo uma cicatriz no rosto, algo que não se aplicava a Cláudio.

Com base nessas e outras provas, Antônio Cláudio foi inocentado e libertado em 30 de julho de 2019. Desde então, ele tem buscado apoio psicológico e tem recebido medicação psiquiátrica, mas enfrenta dificuldades para encontrar emprego e precisou se mudar de cidade.

“Ao longo de toda a tortura e sofrimento que passei, e às vezes ainda enfrento, me tornei uma pessoa retraída. Hoje, sou uma pessoa solitária e atípica. É muito difícil para mim estar com alguém. Essas sequelas me afastaram consideravelmente das pessoas”, compartilhou Antônio Cláudio.

Atualmente com 39 anos, ele precisou lutar para reconstruir sua vida. Antes de ser preso, era proprietário de uma borracharia no bairro Mondubim, em Fortaleza. Após sua liberação, ele e sua família tiveram que arcar com os custos dos tratamentos e medicamentos para lidar com crises de ansiedade e episódios de depressão que o afetaram. A situação, desde sua prisão até as dificuldades na recuperação, impactou a saúde de toda a família de Cláudio. “Minha irmã e minha mãe adoeceram devido a tudo o que aconteceu. Meu pai passou por quatro cirurgias cardíacas. Meu irmão entrou em uma depressão crônica devido ao sofrimento, mas felizmente ele se recuperou”, relatou.

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