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Americando: Conversa sobre falso moralismo

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“Quem pensa por si mesmo é livre
E ser livre é coisa muito séria”
(Legião Urbana, L’Avventura)

Os falsos moralistas são antes de tudo perenes em todas as instituições. Sim, em todas! Vejamos… a família! Certamente em todas têm aquele tio ou tia que fala de tudo e todos, diz que estão errados, que as coisas não deviam ser como estes fazem, mas…, mas…, mas… este ou esta que arrota moralidade no ceio familiar em dado momento vem à tona uma ação ou omissão que esta pessoa praticou, a qual pelo discurso não devia ter feito. Sobram síndromes da vergonha alheia…

Lá no trabalho, na vizinhança, na igreja, no boteco com a galera, a pessoa que usa de falso moralismo lá também está. É o suprassumo da conduta, da perfeita prática da cidadania, do engajado posicionamento político, e ainda, pra variar… sempre tem uma história que ajudou alguém, que alguém se espelhou nela pra superar algo ou alguma coisa, que a posição a qual chegou na empresa é fruto de sua competência, embora um ou dois saibam que foi uma ajudazinha de um político ou parente de influência… esquece… é sempre assim… Nas instituições religiosas há uma verdadeira pandemia, sim, como a covid, de falso moralismo… Olha… me relacionei com algumas pessoas que seguiam alguma religião… meu Deus… acho que essas pessoas contribuem bastante para as outras falarem mal da religião. O falso moralismo é escancarado! Falam virtudes aos quatro cantos, e vivem em práticas totalmente 180º daquilo que arrotam. O falso moralismo é uma conduta perene em todos os meios… eu, sem nenhum recalque, uso de falso moralismo… sim! Por que não? Há apertos de mãos que não desejo, abraços e até “oi” que não quero, mas a merda da educação obriga, a etiqueta social, família, religião, profissão, contextos… essa coisa toda… dá vontade de dizer: f…………………………………………………………………………………………………..-ce.

Conheço alguns falsos moralistas práticos, bem práticos, pragmáticos, covardes, mentirosos, sem decisão de tomar nenhuma atitude pra mudar a própria vida e a do próximo. Criticam tudo e todos, falam mal do governo, isso é prato cheio, mas nada fazem, quer dizer! Fazem tudo como a maioria… Nada ligam, enrolam no emprego, enganam, mentem, traem, não dizem as coisas com frases abertas, querem ouvir a verdade, mas se você jogar a real pra essa pessoa… pronto… ela fica com raiva, pois ela não quer ouvir o que você acha, mas quer ouvir o que ela pensa e concorda saindo em frases de sua boca… é isso… desse jeito.

Certa vez, você sabe das coisas do nada… no acaso da vida em situações comuns… Ia em viagem e em minha poltrona do ônibus ouvi duas pessoas que estavam no assento atrás de mim a conversar. Ouvi os nomes envolvidos aos quais essas duas pessoas falavam, contexto, a profissão… características mais do que claras de pessoas que também conheço… Ouvi tudo… traição, mentiras, jogos de poder, inveja… tudo! Um verdadeiro relato de pessoas que eu conhecia bem… É isso, não fiquei muito surpreso, é bom não temer decepções com o próximo. Tanto nos decepcionamos, como também decepcionamos os outros. Ao fim de uma parada, tive que descer, mas a história eu fiquei sabendo… o futuro que veio logo depois do fato que escutei confirmou toda a história que eu ouvira da minha poltrona de ônibus. As coisas são assim, você sabe do nada das coisas… Uma pessoa certa vez me contou um fato sobre duas pessoas… Usando de falso moralismo eu disse que não as conhecia. Trágico o engodo… Eu fiquei sabendo de coisas tristes… e logo, logo o futuro que veio confirmou tudo o que esta pessoa me disse… É isso… o mundo é uma aparência… enorme… um teatro… um absurdo representativo, uma encenação de falso moralismo para todos os lados…

Por fim, certa vez uma pessoa pediu minha opinião sobre algo. Relutei em dizer algo, mas após essa pessoa insistir eu falei. Pronto… essa pessoa hoje mal fala comigo, quando me ver mal me olha, se eu tivesse agindo como às vezes ajo, com o prático e bom falso moralismo que vi e aprendi muito até na igreja, essa pessoa ainda estava “de boa” comigo. É isso aí… A molecada corre, o Mengão faz mais um gol, a covid segue matando… e como um amigo de breja sempre diz: “ninguém liga!”. “Viva o falso moralismo! Essa é a lei pragmática e ópio do mundo pós-moderno!”.

O objeto mais desejado no coração humano é a algema que nos prende, escraviza e até mata… Aprendi isso paradoxalmente nas religiões, analisando as histórias que elas contam…

  • Por Américo Neto

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