Ceará
Vacinação infantil: Ceará não atinge nenhuma meta do calendário nacional em 2020
A cobertura vacinal é um indicador de aplicações de uma determinada vacina na população. No caso, quanto maior o índice de cobertura, mais as pessoas estarão protegidas coletivamente e, assim, erradicarão doenças – como o caso da poliomielite, erradicada em Fortaleza desde 1994, segundo a coordenadora de imunização da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Vanessa Soldateli.
No ano passado, a vacina BGC teve cobertura de apenas 63,47% no Estado – a menor cobertura das nove vacinas previstas no calendário no ano analisado. Preventiva contra formas graves de tuberculose e conhecida tradicionalmente pela cicatriz no braço, a cobertura mínima pelo Ministério da Saúde (MS) para esta vacina é de 90%. Entre o intervalo de 2018 à 2020, a meta de imunização foi ultrapassada apenas em 2018, com 104,89% de cobertura no Ceará. Em 2019, o número já se apresentava abaixo da meta, com 86,05%.
Depois da BGC, os menores índices de cobertura observados em 2020 no calendário infantil foram a segunda dose da Tríplice Viral (preventiva contra sarampo, caxumba e rubéola, com 68,75%); pentavalente (contra difteria, tétano e coqueluche, com 79,95%) e contra a hepatite A (81,49%). Já os maiores índices atingidos foram da vacina pneumocócica (contra pneumonia e outras doenças causadas pelo Pneumococo, com 90,47%), primeira dose da Tríplice Viral (primeira dose da preventiva, com 87,76%) e Meningococo C (previne meningite e meningococcemia, com 87,25%). Entretanto, os valores seguem baixos: as metas para essas vacinas são de 95%.
Entre 2018 e 2020, as últimas metas alcançadas pela Sesa foram em 2019. Naquele ano, quatro das nove vacinas do calendário superaram a cobertura mínima: Rotavírus humano (94,96%), Meningocócico C (97,42%), Pneumocócica (98,85%) e a Tríplice Viral D1 (103,02%).
A queda cearense em 2020 é representada, principalmente, devido a pandemia de Covid-19, ressalta a coordenadora de imunização do Estado (Sesa), Carmem Osterno. “Nós tivemos um ano atípico para tudo. As pessoas tinham medo de ir ao posto de saúde, medo de ir a uma unidade de saúde”, pontua. “Tanto que não foi só em relação à imunização: diabéticos, hipertensos e gestantes também pararam de realizar seus acompanhamentos. Todos os índices de acompanhamento no Brasil caíram.”
Osterno aponta para casos de crianças que tiveram perda de alguns meses de vacinação e completaram um ano em casa, por exemplo, idade prioritária para aplicação de grande parte do calendário infantil. “Nós temos uma faixa etária: você toma a primeira dose aos dois meses e ela tem que completar até um ano de idade para entrar na cobertura vacinal. Então as crianças estão vacinadas, mas elas não entram no cálculo”, explica.
Foi o caso de Gael, de 7 meses. O filho da assessora Camila Vieira nasceu em um hospital da rede privada e recebeu duas primeiras vacinas logo ao nascer. “As demais vacinas foram na rede pública. Apesar do medo, confiamos no posto e fomos. Lá é acessível, tem barreiras de segurança”, conta a moradora do bairro Granja Portugal. Camila também participou das campanhas de vacinação no ano passado; entretanto, entende que sua situação é particular. “Não é uma realidade de todos. Eu quero que Gael esteja em dia, mas parte das minhas vizinhas, por exemplo, não foi vacinar devido ao medo da pandemia”.
Censo de cobertura vacinal infantil
Há cerca de cinco anos, o Brasil vem passando por uma queda nos índices de cobertura vacinal infantil. As últimas metas de imunização atingidas no País foram em 2018, com a vacina da BCG (99,72% do público-alvo) e a vacina contra o rotavírus humano (91,33%). Para ambas, a meta é superar os 90%, patamar não atingido em 2019. Em 2020, o número foi ainda mais preocupante, com taxa da BCG em 63,88% e da vacina do rotavírus em 68,46%.
A coordenadora-geral do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, Francieli Fontana, explicou que a queda nas coberturas vacinais durante a pandemia foi um fenômeno sentido globalmente. O PNI é um dos maiores programas de vacinação do mundo e há 45 anos atua no Brasil. Segundo ela, o recuo teve início em 2015, quando pesaram fatores como o horário de funcionamento das unidades de saúde, a circulação de informações falsas sobre a segurança das vacinas e até mesmo a impressão de que as doenças imunopreveníveis já deixaram de existir.
Devido à redução, 2021 dá continuidade ao 1º censo de vacinas em 14 anos. Financiada pelo Ministério da Saúde, a pesquisa se propõe a estimar a cobertura vacinal aos 12 meses, aos 18 meses e aos 24 meses de vida em nascidos vivos entre os anos de 2017 e 2018 nas áreas urbanas brasileiras.
Fonte: O Povo