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Reformas de Guedes e Bolsonaro não vão dar resultado em 2020, explica economista

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Estagnação econômica, alto nível de desemprego, precarização e aprofundamento da desigualdade social. O Brasil chega ao fim de 2019 enfrentando as consequências da crise socioeconômica que assola o país desde 2015, acentuada pelos governos Temer (MDB) e Bolsonaro (sem partido).

Em entrevista ao Brasil de Fato, o economista Márcio Pochmann avalia que, com Paulo Guedes à frente do Ministério da Economia, houve um aprofundamento da política econômica neoliberal de Henrique Meirelles, ministro da Fazenda do governo Temer.

“Com as políticas neoliberais, podemos dizer que 90% da população se encontra pior do que estava em 2014. Mas não podemos dizer isso dos 10% mais ricos, que não foram afetados por esse quadro desfavorável – pelo contrário, é o segmento que conseguiu melhorar seu padrão de vida, apropriando-se da pouca renda gerada no país”, afirma.

Como parte desse processo, Pochmann cita a Emenda Constitucional 95, que impõe um teto orçamentário aos gastos públicos, as reformas trabalhistas e Previdenciária, e a aprovação da terceirização irrestrita.

O conjunto dessas políticas criou um cenário desolador para a maioria da população. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 12,5 milhões de brasileiros estão sem trabalho. Além da escassa oferta de emprego, a taxa de informalidade entre os trabalhadores ocupados aumenta mês a mês e chegou a 41%.

Conforme a análise do economista, o processo de desregulamentação do mercado de trabalho favoreceu a “transformação do bico como ocupação”.

“As ações tomadas foram basicamente para deslocar o custo da crise para a maior parte da população, principalmente os extratos mais empobrecidos. De 2015 para cá, passamos a ter uma inflexão em que predominavam restrições a democracia, decrescimento econômico e exclusão social”, enumera.

Pochmann é enfático ao afirmar que, com o declínio da renda da maioria da população, uma recuperação econômica não está no horizonte do país a médio prazo. “Nós estamos estagnados em um patamar inferior a 2015. Não há crescimento, começa por aí. Podem falar que [a economia] está recuperando, mas isso significará talvez, a esse ritmo, em 2022 o Brasil volte a ter o patamar de produção que tinha em 2014.”

Brasil de Fato: Qual balanço do Brasil em 2019 na área econômica?

Márcio Pochmann: Nós tivemos o ingresso de um novo governo que propôs superar o que entendia como práticas de desenvolvimento associado ao Estado, e o engajamento de uma nova macroeconomia assentada no protagonismo do setor privado.

A política econômica de Meirelles [Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda] foi praticamente mantida. O que tivemos nesse primeiro ano é uma espécie de aprofundamento daquela mesma política econômica do governo anterior [Michel Temer].

O resultado disso é a percepção de que estamos no quinto ano em que a economia brasileira não conseguiu retomar o nível de atividade que havia atingido em 2014. Não há sinais de superação daquele quadro, do ponto de vista econômico e social, de 2014.

Em uma perspectiva mais ampla, chama a atenção o fato de que, neste ano, sob governo Bolsonaro, o Brasil consolidou a primeira década perdida do século – embora essa década tenha tido uma trajetória diferente entre 2010 e 2014, em que a economia combinava democracia, crescimento econômico e inclusão social.

De 2015 para cá, passamos a ter uma inflexão em que predominavam restrições a democracia, decrescimento econômico e exclusão social.

A situação da década, como um todo, é pior do que a da década de 1980. Há diferenças porque obviamente não temos a hiperinflação que o Brasil tinha, mas o quadro fiscal é pior. O quadro do mercado de trabalho também é pior em relação ao desemprego e à própria subutilização do trabalho. E a desigualdade tem crescido aceleradamente, assim como a pobreza.

O governo Bolsonaro nesse primeiro ano, não conseguiu introduzir um outro sentido que não fosse o que estamos identificando desde 2015. E, com isso, é o governo que consolida essa década perdida – reconhecendo que é uma década que teve os primeiros cinco anos em um sentido e os demais, em outro.

Fonte: Brasil de Fato

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