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Pouco conhecido, Rio Cariús garante recarga hídrica ao Açude Orós

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Pouco conhecido, o Rio Cariús é o principal responsável por cheias da Bacia do Alto Jaguaribe e pela recarga do Açude Orós – segundo maior reservatório do Estado, hoje com apenas 4,87% de sua capacidade – que é estratégico para abastecimento das cidades de Orós, Jaguaribe, Jaguaretama, Pereiro e dezenas de vilas e localidades rurais. Porém, sua nascente, em Santana do Cariri, nos últimos anos, tem sofrido com o desmatamento, a captação de água nas fontes e a ocupação irregular.

Já no seu trajeto, o Cariús recebe esgoto de quatro municípios. Quem vê as águas escorrerem no leito do Rio Jaguaribe na cidade de Iguatu, cerca de 30 Km do Açude Orós, não imagina que essas são oriundas da Chapada do Araripe. O fato é que o principal curso d’água cearense nasce na região dos Inhamuns, em Tauá, na Serra da Joaninha, e faz com que os moradores imaginem que a cheia do rio é favorecida somente por chuvas daquela região.

O Rio Cariús deságua no Jaguaribe no município de Jucás, acima de Iguatu. “É um dos mais importantes afluentes da Bacia do Alto Jaguaribe, pois, na região do Cariri, historicamente chove bem mais do que nos Inhamuns”, observa o gerente do escritório da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), em Iguatu, Anatarino Torres.

No último mês de fevereiro, as chuvas em Santana do Cariri (272,7 mm), Nova Olinda (350,5 mm) e Farias Brito (233,8 mm) ficaram acima de suas médias históricas em 65,3%, 101,3% e 39,3%, respectivamente.

“A pequena cheia atual no Rio Jaguaribe, em Iguatu, é oriunda totalmente do Cariús”, reforça Anatarino “Quando chegar a água vinda do Alto Jaguaribe haverá um aumento do volume porque ela se une com a oriunda do Cariri”, completa.

Segundo o geólogo e gestor de recursos hídricos, Yarley Brito, o Rio Cariús é um dos melhores para a recarga do Orós porque não há nenhum barramento em seu trajeto. “Construíram muitos reservatórios ao longo do (Rio) Jaguaribe que impedem a água de chegar no Orós”, frisa. “Os últimos foram o Arneiroz II, em Tauá, e o Trussu, em Iguatu”. Ao longo do curso, são mais de 500 milhões de metros cúbicos acumulados. “O Cariús é o grande contribuidor porque ele está livre”, completa o geólogo.

Curso

Com água aflorando numa altitude de 717 metros, o Rio Cariús nasce no Vale dos Buritis, no sopé da Chapada do Araripe, em Santana do Cariri, a 11 Km da sede do Município. De lá, passa pelos municípios de Nova Olinda, Farias Brito, Cariús, antes de desaguar no Rio Jaguaribe, em Jucás. Por isso, as chuvas nesta região são as principais responsáveis pela recarga do Orós.

Importante para o turismo ecológico, principalmente nas suas nascentes, o Cariús também é fundamental para a subsistência das pessoas no seu curso. É o caso da agricultora Ana Cristina Muniz, que planta milho e feijão às suas margens, em Nova Olinda. “Aqui, tem a umidade da terra e sempre está verdinho. Nunca secou”, comemora. Contudo, admite que outros moradores acabam poluindo o rio com frequência. “Às vezes, o pessoal vem e joga sacola”, lamenta Cristina.

Há alguns anos, o manancial tem sido ameaçado, como denuncia um morador do Vale dos Buritis. A mata ao redor tem sido cortada. Em dezembro de 2018, uma grande queimada destruiu parte da vegetação. Ainda assim, comunidade, mineradores e caminhões-pipa retiram a água diretamente da nascente.

Poluição e ameaça

A professora aposentada da Universidade Regional do Cariri (Urca), Lireida Noronha, enumera que o desmatamento e a ocupação eram os problemas mais recorrentes há, pelo menos, 16 anos. Outra preocupação são os esgotos jogado no rio.

“O crescimento urbano desordenado das cidades e a falta de saneamento, fazem com que os esgotos sejam despejados diretamente nos rios. Com o Cariús não é diferente”, pontua.

A Secretaria de Meio Ambiente de Santana do Cariri, em nota, afirma que está trabalhando para reduzir os impactos ambientais nas fontes do Vale dos Buritis com visitas e acompanhamento da qualidade da água. Como as nascentes estão, em sua maioria, em terrenos privados, a Pasta faz um trabalho de conscientização com os proprietários para a preservação e manutenção, como evitar o uso do fogo nestas áreas.

A Prefeitura apresentou, ainda no ano passado, um projeto ao Governo do Estado para criar o Parque Ecológico Vale do Buriti. A proposta foi acolhida pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado (Sema), e as discussões estão avançando. A ideia é que a unidade de conservação abranja 3,7 mil hectares, incluindo três nascentes.

Em Nova Olinda, o Rio Cariús recebe o esgoto da cidade, e os moradores ainda despejam lixo de forma irregular no seu entorno.

Segundo a secretária de Meio Ambiente do Município, Toniana Fernandes, não há controle sobre essa forma de poluição. “É algo que foge da nossa gestão por conta da educação das pessoas”, admite. “Fazemos um controle de construções nas Áreas de Preservação Permanente do curso d’água, com georreferenciamento, e 15 imóveis foram embargados”. A expectativa também é resolver o problema dos efluentes a partir de um projeto de saneamento básico, já aprovado, que deverá custar R$ 35 milhões. O serviço, a longo prazo, deve ser concluído em até 15 anos.

Em Farias Brito, o problema é semelhante: parte do esgoto da cidade é despejada no Cariús. “A gente não tem sistema de tratamento e, querendo ou não, uma parte ainda escoa para o rio, mesmo que indiretamente. O projeto de urbanização e saneamento é caro. Os gestores vêm tentando resolver o problema”, explica o secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Pedro Bitu.

Além disso, o rio sofre com o avanço de plantações sobre a mata ciliar. Porém, Bitu conta que há alguns anos é desenvolvido um projeto de revitalização da vegetação a partir do replantio de mudas próximas às margens do curso d’água.

A última ação aconteceu em dezembro de 2019 e foram introduzidas 1.200 mudas nativas, com apoio de estudantes da rede municipal. Ao todo, já foram plantadas 20 mil.

Transposição

O Trecho 1 do Cinturão das Águas do Ceará (CAC), obra do Governo do Estado, prevê a transferência de água do Rio São Francisco, a partir da barragem de Jati, até o Rio Cariús. São 160 Km de extensão, numa vazão estimada entre 25 e 30m³/s. As obras nos lotes 3 e 4 do CAC, que levarão água até Nova Olinda, estão praticamente paralisadas. O primeiro trecho está com um avanço físico de 26%, enquanto o segundo tem apenas 5% dos serviços concluídos.

Fonte: Diário do Nordeste

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