Noticias

O que é fascismo, nazismo, antifa e o que têm a ver com o Brasil

Published

on

Na esteira dos protestos antirracistas eclodidos nos Estados Unidos após o assassinato do afroamericano George Floyd por um policial branco em Minneapolis, no estado de Minnesota, o último fim de semana de maio no Brasil também foi de desassossego por dois eventos singulares que voltaram a lançar luz para termos como fascismo, nazismo e antifa.

No sábado, 30, em Brasília, o grupo autointitulado ‘300 do Brasil’ marchou na capital federal com tochas, máscaras e palavras de ordem contra o Supremo Tribunal Federal. Menos de 30 participaram da caminhada, segundo o jornal O Globo, mas as semelhanças com a manifestações de supremacistas brancos, como em 2017 na cidade de Charlottesville, nos Estados Unidos, chamaram atenção das autoridades e das redes sociais.

No dia seguinte, em São Paulo, uma frente de torcidas organizadas em prol da democracia e contra o racismo encontrou um grupo de manifestantes a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na avenida Paulista. Os dois blocos dividiram a avenida, em meio às hostilidades, até a Polícia Militar usar força para reprimir o grupo de torcedores identificados como antifa (abreviação de antifascista). Do outro lado, na marcha bolsonarista, foram identificados símbolos associados a movimentos neonazistas na Ucrânia. A PM afirmou que iria investigar o uso do símbolo.

A discussão acerca da acepção de nazismo e fascismo volta e meia vem à tona no Brasil e já pôs em campos opostos os governos brasileiro e alemão – para Bolsonaro, o nazismo é proveniente da esquerda; na Alemanha, berço da barbárie nazista, o movimento é amplamente reconhecido como de extrema-direita. Em janeiro, o então secretário especial da Cultura do governo federal, Roberto Alvim, foi demitido após referenciar o ministro nazista Joseph Goebbels, em discurso veiculado nas redes sociais.

Mas, afinal, o que é o nazismo? E o que é o fascismo? Confira um resumo a seguir

  • O fascismo é uma ideologia que prega um partido único e um Estado totalitário, contrário ao liberalismo econômico e ao comunismo. É embasado em sentimentos nacionalistas e ufanistas, como manifestado pelos fascistas entusiastas do irredentismo italiano (que defendia anexação à Itália de todas as regiões ligadas ao país por costumes e idioma ou laços semelhantes) e, no nazismo alemão, pela máxima Deutschland über alles: Alemanha acima de tudo.
  • O fascismo adota uma militarização da vida política e a presença da figura militar na vida pública, projetos de expansão imperial e enfrentamento de supostos inimigos, internos ou externos. Uma das frases mais famosas do líder fascista Benito Mussolini, um ex-combatente de guerra, era: “Muitos inimigos, muita honra”. A pesada máquina de propaganda fascista também é uma das características do movimento, que tende a formar redes de delação, apontar “inimigos” e publicizar uma ideologia oficial, comumente baseada em mentiras e terror.

Como surgiu o fascismo?

  • O fascismo nasceu na Itália pós-Primeira Guerra Mundial, em um contexto de crise política e econômica e temor de supostos movimentos comunistas após a Revolução Russa de 1917.
  • Segundo o historiador italiano Emilio Gentile, o termo fascismo deriva do termo em latim fascio littorio, que representa um conjunto de galhos amarrados a um machado, símbolo da punição na Roma Antiga.
  • Em 1919, O líder político Benito Mussolini reuniu ex-combatentes da Primeira Guerra e formou o grupo “Fasci di Combattimento” (Grupo de Combate), que passou a agir como milícia contra políticos de esquerda, judeus e homossexuais.
  • Em 1921, o grupo é convertido em legenda por Mussolini, o Partito Nazionale Fascista (Partido Nacional Fascista, o PNF), e entra no Parlamento. O símbolo do partido era justamente o machado do fascio littorio.
  • O movimento fascista mobilizou, principalmente, a pequena e média burguesia, elites empresariais e latifundiárias, a classe média e setores do Vaticano. Segundo o historiador britânico Ian Kershaw, em seu livro “De Volta do Inferno”, em 1939 quase metade da população italiana estava filiada a alguma organização fascista.

Fascismo é o mesmo que nazismo?

Não. O fascismo foi geminado na Itália e, posteriormente, na Alemanha, uma legenda com proposta semelhante foi fundada, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische, abreviado: nazi). Portanto, a ideologia serviu de base para o nazismo, que é fundamentado no fascismo.

Segundo professor de ciências políticas da Universidade Federal do Ceará, Fabio Gentile, os dois são muito semelhantes, mas não iguais. “O cerne ideológico do fascismo é o Estado totalitário que visa mobilizar e incorporar as massas, enquanto no nazismo, desde logo, o Estado totalitário ganha um sentido racial-racista, de cunho biológico, que no fascismo, pelo menos no início, não é prioridade do regime”, elucida.

A Itália, por exemplo, só passou a perseguir judeus após a associação com a Alemanha, preparando-se para a guerra. A lei racial italiana é de 1938, mais tardia que a legislação nazista. As duas ideologias são derivadas da extrema-direita, como pontua o museu do Holocausto Yad Vashem, em Israel.

E o neonazismo, o que é?

É um movimento iniciado após a Segunda Guerra Mundial com objetivo de retomar o projeto racial-racista do nazismo, reforçando a “supremacia branca” ou da “raça ariana”. Nos anos seguintes, nasceram várias células neonazistas, simpatizantes ou mesmo descendentes de movimentos nazistas da primeira metade do século XX.

Na Grécia, o partido Aurora Dourada é apontada como de clara associação nazista, inclusive no uso de símbolos. O porta-voz da legenda, Ilias Kasidiares, até possui uma suástica tatuada. Na Dinamarca, o Movimento Nacional Socialista não esconde sua inspiração nazista, enquanto na Alemanha o partido Alternative für Deutschland (AfD) minimiza a barbárie hitlerista.

Na Ucrânia, a organização paramilitar Pravyi Sektor (Setor Direito) virou partido político e chega mesmo a estampar símbolos da milícia nazista Schutzstaffel (mais conhecida como SS). O grupo ucraniano é classificado oficialmente como neonazista na Rússia, segundo a Folha de S. Paulo.

Nos Estados Unidos, em 2017, uma marcha neonazista na cidade de Charlottesville bradava contra negros, homossexuais, judeus e imigrantes. Centenas compareceram ao movimento com tochas e símbolos do grupo racista estadunidense Ku Klux Kan (KKK) – anterior ao nazismo, mas que compartilha com o mesmo a ideologia supremacista branca e de extrema-direita.

Aqui, o grupo “300 do Brasil” replicou muitas características da KKK e de Charlottesville em marcha na cidade de Brasília no último sábado de maio, 30. O agrupamento já reconheceu guardar armas em seu acampamento na capital federal, artefatos que, segundo a principal porta-voz do grupo, Sara Winter, servem para “proteção”. A ativista, cujo nome de batismo é Sara Geromini, adotou a alcunha “Sara Winter”, nome da inglesa membro da União Britânica Fascista que atuou como espiã nazista para o Terceiro Reich.

Fonte: O Povo

EM ALTA

Sair da versão mobile