Economia

Impacto da alta do dólar sobre o combustível eleva custos no Ceará

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Além da gasolina, o trigo utilizado na fabricação de massas e pães, azeite, remédios e peças automotivas são produtos mais sensíveis à alta da moeda americana. Dólar bateu novo recorde pelo terceiro dia seguido.
Um dia após o dólar norte-americano renovar a sua máxima nominal (sem considerar os reajustes inflacionários no período), a Petrobras anunciou ontem (27) um reajuste de 4% no preço da gasolina vendida nas refinarias. Além do combustível, outros produtos fortemente presentes na vida do consumidor cearense e brasileiro são prontamente impactados por flutuações no câmbio.

O economista e vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Eleutério, explica que a alta do dólar, ao influenciar os preços dos combustíveis, produz um efeito “devastador”. “Cria uma espécie de dominó e os demais preços vão sendo contaminados, mesmo os valores dos produtos nacionais”, diz.

O economista detalha que isso acontece porque o valor do barril é cotado em dólar. Quando o Brasil importa o produto, precisa despender mais dinheiro nessa aquisição. Dessa forma, fica mais caro.

“O barril tem uma precificação diária. A gente tem uma política de reajuste dos combustíveis que acompanha os preços no mercado internacional, que também têm sido pressionado para cima. Combinado com a elevação do dólar no mercado doméstico, os preços dos combustíveis sobem”, explica Ricardo Eleutério.

Segundo Antônio José da Costa, o assessor de Economia do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis do Ceará (Sindipostos-CE) informou não ser possível prever o impacto da alta definida ontem pela Petrobras. “O aumento da refinaria independe da majoração do varejo e não ocorre na mesma hora. Não há como vincular um ao outro, pois eles são independentes – além disso, o aumento da refinaria só representa um terço do preço final”, afirmou.

Além do combustível, o trigo, insumo utilizado na fabricação de massas e pães em geral e importado por cearenses de países como Argentina, Canadá e Estados Unidos, é um dos itens que poderia sofrer aumento de preços com a volatilidade da moeda norte-americana ante o real. Outros importados como o azeite, remédios e peças automotivas também são impactados.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Estado do Ceará, Ângelo Nunes, pontua, entretanto, que apesar da expressiva variação do dólar, o trigo deve se manter no patamar atual.

“Não temos ainda um cenário apontando para o aumento. O dólar é um dos fatores que pode elevar os preços, mas há uma expectativa positiva quanto ao volume de produção do insumo na safra do ano que vem. Isso é um ponto positivo para que o preço se mantenha estável”, avalia.

Ele acredita que somente em um cenário de dólar cotado acima de R$ 4,50 provocaria uma majoração. “Isso significaria uma subida de 10% na cotação da moeda e teríamos, certamente, um aumento no valor do trigo e consequentemente no pão”, diz o presidente do Sindipan-CE.

“Pequenas variações os moinhos conseguem absorver sem repasse às padarias e, consequentemente, ao consumidor”, completa.

Ontem, o dólar voltou a encerrar em seu maior patamar nominal. A moeda dos EUA fechou em alta de 0,45%, a R$ 4,2584. Com o avanço, acumula, em novembro, alta de 6,2%. Em 2019, a variação já chega a 9,92%.

Exportações

Apesar dos impactos negativos da variação do dólar sobre as importações, o movimento de alta da moeda norte-americana ante o real acaba beneficiando os exportadores. “Ao passo que o cenário estimula as exportações e inibe as importações, ajuda a produzir um superávit na balança comercial”, detalha Ricardo Eleutério, ponderando, no entanto, que a alta do dólar contribui para pressionar a inflação e produz redução dos salários reais. “Há um impacto muito ruim no que concerne ao poder de compra da sociedade, principalmente para os que possuem menor renda”, acrescenta.

O economista, também membro do Corecon-CE e professor de Economia e Finanças da Universidade de Fortaleza, Allisson Martins, avalia que a movimentação do câmbio é um “ingrediente a mais” para a elevação da inflação. “Por outro lado, pode ser um fator de alívio para a indústria, haja vista o aumento da competitividade dos nossos produtos, via melhora dos preços relativos”, aponta.

Ele também acredita que gasolina e diesel, além de produtos que possuem trigo em sua composição, podem ser mais afetados pela alta do dólar. “Vale salientar que além da inflação ser maior para as famílias, as empresas poderão ainda ter suas margens de lucros reduzidas, por ter dificuldades em repassar os custos inflacionários na totalidade para o consumidor, em razão da baixa demanda existente”.

De acordo com Martins, a dinâmica de repasse de custos motivada pelo dólar em alta não tem um tempo determinado. “Depende de outras variáveis, como a existência de estoques de produtos, e assim, apenas na renovação é que os preços poderão ser elevados, ou mesmo por questões de mercado”, diz.

‘Cotação nervosa’

O economista analisa ainda que a “cotação nervosa” está relacionada a questões externas. “Especialmente potencializada pelo embate comercial entre Estados Unidos e a China”, pondera. Internamente, a trajetória descendente da taxa básica de juros, a Selic, tem influenciado a elevação.

“Na medida em que os investidores estrangeiros passem a considerar os investimentos atrelados à Selic menos atrativos, buscam outros países, demandando dólares em maior intensidade para sair do Brasil, fazendo a cotação subir”.

Das Agências

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