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Iguatu: a cidade do futuro que matou seu passado. Por Jan Messias

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O recente debate em torno da ocupação da Estação, o prédio centenário, ícone da nossa história, mas totalmente depredado, marginalizado e vandalizado é um reflexo claro e evidente da relação do poder público com o patrimônio histórico e com a memória da cidade.

Fim de tarde na Rua Santos Dumont, no centro comercial de Iguatu.

As ruas da cidade ainda guardam um pouco da identidade visual que ainda comove iguatuenses morando fora da cidade, mas esse patrimônio vai, pouco a pouco, sendo apagado.

O projeto tão comercial de “Iguatu-Cidade do Futuro”, colocado como a redenção da nossa cidade, se mostrou um fracasso claro quando analisamos a ausência das prometidas indústrias e empresas e com as inúmeras obras paradas, que antes eram motivo de propagandas dignas de cinema.

O que nos restou, além das obras paradas na paisagem urbana, foi ver uma cidade descaracterizada de seus ícones históricos, de seus casarões do século passado e de suas ruas com nomes conhecidos. O descuido com o patrimônio histórico-arquitetônico não é recente, mas se intensificou na pressa por se chegar à tal cidade do futuro.
Talvez um visitante mais desavisado não consiga perceber que está em uma cidade com quase dois séculos de fundação e cujas raízes históricas remontam o início da colonização do Estado.

Em certas ruas da cidade ainda é possível o encontro com o passado, como o Grupo Escolar Doutor Manoel Carlos de Gouveia.

Em certas ruas da cidade ainda é possível o encontro com o passado, como o Grupo Escolar Doutor Manoel Carlos de Gouveia.

Além do silêncio do poder público diante da derrubada e descaracterização de prédios antigos, a Lei 065/99 ( Uma clara lei para inglês ver ) é simplesmente ignorada e o que restou da identidade visual de certas ruas foram apenas fotos em álbuns de família e em poucas publicações com esse tema, já que também não há incentivo ou apoio para a escrita da memória de nossa cidade (exceto quanto há claro interesse político nessa história).
Entre as ironias ( e sem entrar no mérito dos valores envolvidos em cada obra ) vemos praças que perderam sua arborização completa, como a Praça da Bandeira e outras que foram totalmente transformadas, como a Praça da Criança. Algumas têm equipamentos prontos para atividades culturais e artísticas, mas parecem mais uma obrigação burocrática do que um verdadeiro equipamento de cultura pelo mau ou nenhum uso desses instrumentos.

Por fim, o que se percebe é uma urgência em se escrever uma história nova, a todo custo, enfiada goela abaixo da população, apagando de forma quase que criminosa o que restou de dias melhores em um passado nem tão distante.

A dúvida que fica é se conseguiremos saber para onde vamos se não conseguimos lembrar sequer de onde viemos.

*Texto originalmente publicando na página pessoal do Facebook, porém ainda pertinente.

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