Ceará

Hoje é dia de festa para Patativa do Assaré

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Um dos maiores poetas populares do Brasil, Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, completaria nesta segunda-feira (5), 109 anos. Desde o último sábado (3), este Município no Cariri cearense celebra a vida do homem que difundiu a cidade para o restante do País. O legado do artista continua presente na sua terra natal, nas escolas, na voz das pessoas e nas mais diversas linguagens artísticas.

Ao longo do ano, vários projetos são trabalhados envolvendo a cultura popular em Assaré, como o Cordel na Feira, que reúne cordelistas e violeiros, uma vez por mês, em praça pública. “A festa é a culminância de tudo que é trabalhado”, explica Francisco Wagner Góes, secretário de Cultura do Município. Além disso, as escolas e o Instituto Canto do Patativa trabalham com oficinas de cordéis, viola e música para reverberar a cultura de Patativa. “Hoje, ele não é um patrimônio só de Assaré. Nós temos a missão de continuar levando essa cultura”, completa o titular da Pasta.

As escolas de Assaré, sejam da rede pública, municipais e estaduais, ou privada têm desenvolvido projetos voltados a Patativa do Assaré. Uma Lei Municipal incluiu a disciplina de “Cultura Popular”, que trabalha o poeta em sala de aula e fora dela. São contações de histórias, música, oficinas, canto. As atividades acontecem, principalmente, a partir do segundo semestre, antecipando a comemoração de aniversário do artista.

“Patativa é múltiplo: temos o filósofo, o sociólogo, no amor, na cantoria. Essas raízes, quando são trabalhadas na escola, fazem com que essa cultura não morra. A disciplina é dividida. Se trabalha a poesia social e o Meio Ambiente. Esse legado, faz com que sempre se conviva com ele. Mas, claro, dizem santo de casa não obra milagres, então alguns alunos têm resistência. Mas nesta semana, eles transpiram Patativa”, explica o professor Francisco Edval da Silva.

Além disso, o Memorial Patativa do Assaré reúne vários itens que resgatam a figura do poeta, como o tijolo da sua casa, os títulos que recebeu, os discos que gravou, seu rádio, a muleta, uma de suas violas e os tradicionais óculos escuros. O prédio recebe excursões escolares de várias cidades, eventos e palestras. O espaço é mantido pela Prefeitura. No ano passado, o local teve uma média de 600 visitantes por mês.

Lembrança 
Patativa do Assaré vendeu uma ovelha e, com o dinheiro, comprou sua primeira viola. Com ela, embalava as noites com a família tocando baião e alegrando a casa.

“A nossa infância foi sempre trabalhando com ele na roça. Vida muito humilde. O tempo era muito bom. Apesar de ser sério, reclamava pelos direitos, mas eu gostava daquilo ali”, lembra a filha mais velha do poeta, Inês Alencar, 78. Depois que foi morar na sede de Assaré, Patativa visitava a família, na Serra de Santana, toda vez que tinha oportunidade. Chegava a passar um mês na casa de Inês, ensinando versinhos para as netas. Gostava de “comidas de matuto”, como diz a filha. Muito apegado aos livros, ele pedia que Inês lesse para ele. “Trazia livros de lá para ler, presente de amigos. Ele gostava muito”, recorda.

Muito apegado a crianças, Patativa do Assaré começou a usar óculos escuros para não assustar os pequenos com seu olho que perdeu aos quatro anos. Uma dessas crianças foi seu neto Daniel Gonçalves, 30, que administra o Memorial. Ele também seguiu a carreira do avô com a poesia, muito pelo legado que construiu.

“Com 11 anos, fiz um cordel e mostrei a ele. Me chamou no canto e me deu uma chamada de atenção”, lembra Daniel. Patativa chegou a orientá-lo sobre a estrofe e a construção do cordel, desfecho da poesia e as rimas. “Depois que comecei a publicar foi que compreendi”, garante Daniel. Com a influência de seu avô, hoje o jovem dá palestras e admite que suas poesias têm aceitação graças ao nome construído por ele. “O Patativa tem um peso grande. Se eu não fosse neto dele, eu ia ter que bater em muitas portas para ouvirem minha poesia. É uma porta já aberta”, completa.

Fonte: Diário do Nordeste

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