Regional
Famílias ignoram as secas que castigam o Sertão
Iguatu- O Ceará vive uma das piores crises de abastecimento de água. Muitos açudes permanecem secos e milhares de moradores dependem de carros-pipa, um velho retrato sertanejo depois de mais de três anos de chuvas abaixo da média histórica. Mas é possível conviver com a seca, ter água de beber e até produzir hortaliças e frutas para o consumo familiar em períodos de estiagem? A resposta é sim. As experiências com implantação de novas tecnologias revelam que um grupo reduzido de famílias beneficiadas convive melhor e enfrenta a escassez de chuva no Semiárido.

Iguatu- O Ceará vive uma das piores crises de abastecimento de água. Muitos açudes permanecem secos e milhares de moradores dependem de carros-pipa, um velho retrato sertanejo depois de mais de três anos de chuvas abaixo da média histórica. Mas é possível conviver com a seca, ter água de beber e até produzir hortaliças e frutas para o consumo familiar em períodos de estiagem? A resposta é sim. As experiências com implantação de novas tecnologias revelam que um grupo reduzido de famílias beneficiadas convive melhor e enfrenta a escassez de chuva no Semiárido.
Os exemplos estão se multiplicando nas diversas regiões do Ceará, a partir do esforço de organizações não governamentais. O Instituto Elo Amigo, em Iguatu; e o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, em Senador Pompeu, integram as ações da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), para promover o acesso à água e à segurança alimentar a dezenas de famílias de agricultores no Sertão cearense.
A construção de cisternas de placas, calçadão ou enxurradas, de barragens subterrâneas e de barreiros compõe, entre outras, as tecnologias de convivência com o Semiárido. Os recursos para a execução dessas obras são oriundos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e de parceiros, como a Fundação Banco do Brasil e a Petrobras. Têm se mostrado um meio eficaz de acesso à água para consumo e produção de alimentos, em quintais produtivos.
O esforço de organizações da sociedade civil tem apresentado bons resultados. As famílias são capacitadas sobre o uso correto das unidades na estiagem. Exemplos, segundo o coordenador da ONG Instituto Elo Amigo, Marcos Jacinto, estão espalhados em diversas comunidades rurais, nos municípios de Cariús, Crato, Jardim, Jucás, Saboeiro, Piquet Carneiro, Cedro, Icó, Independência, Tauá e Crateús. Desde 2009, foram atendidas 1.590 famílias.
As instituições que fazem as políticas públicas do governo federal chegarem às casas dos agricultores integram a articulação do Fórum Cearense pela Vida no Semiárido. As famílias selecionadas passam por formação técnica, educação ambiental e social.
Cisternas
Há dois tipos de cisternas para captação de água da chuva: a de placa, com capacidade para armazenar 16 mil litros por calha no telhado, do Programa Um milhão de Cisternas (P1MC), que começou em 2003; e a cisterna calçadão, do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), que armazena até 52 mil litros para uso em irrigação de hortaliças e pomares no quintal das casas. Mais recentemente, o governo passou a distribuir cisternas de polietileno.
Na localidade de Riacho do Meio, zona rural de Cariús, quase todas as 54 famílias residentes foram atendidas com cisternas de placas, sendo nove do tipo calçadão. Antonieuda Carvalho é uma das beneficiadas e disse que a obra trouxe grande benefício. “Antes, a gente andava com balde na cabeça, indo pegar água distante, no riacho. Na época do verão, da seca, os poços secavam e a água ficava ruim”, relatou. Hoje, além do consumo da cisterna, a família produz verdura e algumas frutas, mesmo no período de “verão”. “Até abacaxi a gente está plantando. O excesso de produção a gente dá para os vizinhos”.
As famílias dão como contrapartida a escavação, a alimentação dos operários e ajudam no trabalho de construção da unidade. Irani Vieira de Lima, outra beneficiada com a cisterna calçadão, disse que a obra trouxe uma vida nova. “Com certeza melhorou a nossa qualidade de vida. Os frutos, nós produzimos de forma orgânica, sem veneno. A água acumulada ajuda noutra atividade da família: a criação de vacas leiteiras”.
O agricultor Emídio Lima, ao lado da esposa, Francisca Lima, mostra-se satisfeito com as duas cisternas construídas na casa dele. “Foi uma bênção”. Inicialmente, o produtor não queria o benefício, por estar idoso, mas hoje está agradecido. “Já sofri muito indo pegar água no riacho, em poços, mas agora tenho aqui do lado da minha casa”. No sítio Aroeira, zona rural de Orós, a família do agricultor Almir Batista Lima foi beneficiada com cisternas de placa e calçadão há seis anos. Desde então, aproveitam bem a água acumulada quando chove. “Planto hortaliças, macaxeira, banana e cana-de-açúcar. As verduras e frutas, vendo para a vila de Guassussê”. Sem uso de veneno, os produtos são valorizados.
Na localidade de Brilhante, no município de Independência, nos sertões de Crateús, uma das áreas mais secas do sertão cearense, onde moram 60 famílias, existem quatro cisternas de produção (calçadão). O armazenamento de água da chuva no período de “inverno” assegura a produção de frutas, legumes e criação de pequenos animais durante todo o verão, tanto para o consumo das famílias como para gerar renda com a venda do excedente. “É um sonho por uma época dessa não termos a preocupação com a falta de água, não termos que ir buscar longe ou correr o risco de não ter onde ir buscar. Temos água em casa, aqui no nosso quintal”, comemora Celma Pereira.
Além de possuir a água como um bem necessário ao dia a dia, para beber, tomar banho, cozinhar e outras utilidades do cotidiano de uma família de cinco pessoas, a agricultora se anima também com a realidade de transformação de vida conquistada por meio da cisterna calçadão, no que diz respeito à produção. “Plantamos primeiro para o nosso consumo, depois vendemos o que sobra”.
Poços perfurados
Quem não tem cisterna e depende de carro-pipa em tempo de estiagem, ainda tem a chance de ser beneficiado por poço profundo. De 2007 até o ano passado, o governo do Estado perfurou, por meio da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) / vinculadas, 2.353 poços profundos, em variadas regiões do Ceará. Eles atendem, principalmente, as chamadas “populações difusas”, que residem em áreas remotas das zonas rurais.
Como nem sempre a água é boa para o consumo direto, o Programa Água Doce (PAD), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), com contrapartidas do governo do Ceará, está implantando 222 equipamentos para dessalinização da água de poços artesianos, que deverá destinar-se, preferencialmente, ao consumo humano. O investimento é de R$ 44 milhões, entre repasses federais e contrapartidas do erário estadual. Mais de 80 mil cearenses serão beneficiados, segundo a SRH.
“O antigo cacimbão secou e o nosso sofrimento era grande”, contou Maria Carmozina Souza, moradora do sítio São Mateus, zona rural de Mombaça, beneficiada por uma fase anterior do programa. “Esse dessalinizador foi uma bênção dada por Deus. Agora não precisamos mais de carro-pipa”.
No tocante às adutoras emergenciais, para abastecimento de sedes de municípios em iminente colapso hídrico, na primeira fase, foram implantadas dez, beneficiando cerca de 371 mil pessoas. O investimento foi de cerca de R$ 33 milhões; na segunda, seis municípios receberam o sistema, ao custo de R$ 15,4 milhões, para 104 mil pessoas. Na terceira, ao custo de R$ 149 milhões, 11 municípios foram contemplados, para 286 mil habitantes. Na quarta fase, que aguarda recursos do “PAC Seca”, serão beneficiados 19 municípios, investimentos de R$ 152 milhões.
Fonte: Diário do Nordeste
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