Dia-a-Dia com Maria
Dia-a-Dia com Maria: Substantissúper
-Sou o substantivo! Sou quase tudo: ‘flor’, ‘amor’, ‘céu’, ‘centro’, ‘base’, ‘bondade’, ‘maldade’, ‘alegria’, ‘Luíza’, ‘loucura’, ‘nostalgia’, ‘José’, Iguatu, ‘Tereza’, ‘fé’…
-Sou o substantivo! Sou quase tudo: ‘flor’, ‘amor’, ‘céu’, ‘centro’, ‘base’, ‘bondade’, ‘maldade’, ‘alegria’, ‘Luíza’, ‘loucura’, ‘nostalgia’, ‘José’, Iguatu, ‘Tereza’, ‘fé’…
Ponho-me no firmamento como ‘estrela’, aliás, também sou o firmamento. Tudo o que você possa sentir, ver, tocar, que exista no plano real e/ou imaginário, esse cara sou eu, mais que necessário: substantissúper!
Essa declaração irritou o Adjetivo, que lhe rebateu:
-Sem mim, o Sr. até existe, porém não passa de um desqualificado, sou sua cor, sua virtude ou desvirtude, sem realce. Tente comparar um ‘céu’ e um ‘céu azul’; um ‘mar’ com um ‘mar imenso’; uma ‘mulher’ e uma ‘linda mulher’… O sr. Substantivo, pode ser tudo ou nada, precisa de outros elementos. Sozinho, isolado, nada diz, é vazio, uma ilha sem a menor graça, um ser que não faz perguntas (função dos pronomes interrogativos); não se surpreende (papel das interjeições); pode ser substituído pelos pronomes, precisa das conexões para elaborar tecidos-textos-, além das conjunções, preposições etc., das ações (verbos) e das qualidades que a mim, Adjetivo competem. Além do mais, o senhor não invoca, papel que gramaticalmente é dos pronomes de tratamento e, sintaticamente, dos vocativos. O senhor camufla-se, assumindo a natureza de outras classes gramaticais, bastando-lhe para isso, preceder-lhe um artigo. Quer um exemplo? “viver” é verbo, porém, ‘o viver’ passa a ser substantivo, assim, o senhor apropriou-se do que não era seu! No campo do Direito, isso configura uma ‘apropriação indébita’; na gramática, uma ‘derivação imprópria’. E nem adianta fazer-se de vítima com esse quê de estremecido, porque acaba Vossa Senhoria de se apossar novamente só que não lhe pertence: o “que” perde sua natureza de conjunção ou de pronome relativo, ou de outra classe, por causa de um adjunto (pronome demonstrativo). Isso é consumação de sua invasão à seara alheia. Mas não fique triste comigo, que sou Adjetivo, vez por outra, ocorre-me parecido, então veja: sou ‘azul’, entretanto, em “o azul do céu” perco minha natureza e fico igual à sua impertinente intromissão, Sr. Substantivo. Portanto, convença-se de que sozinho, jamais formará frases para contar a história da humanidade e nem decifrará a flor em poesias.
Nesse instante, o enervado e arrogante Substantivo, bastante adjetivado, colérico, reage:
– Seu Adjetivo, você me macula, pode até me estragar, sim! Posso ser uma ‘fruta’ ou uma ‘fruta podre’; uma ‘flor despetalada’ ou uma ‘boneca quebrada’. Na verdade, sou Deus, santo, sol, sistema, caos, mar… Permita-me ser o que sou e tente formar textos sem mim. Será bem complicado, no máximo fará frases curtinhas, mas arte grande, jamais!! Sou mesmo um Substantissúper, compus-me, acabo de me consubstanciar e me elevei sem suas qualidades. Deu p’ra entender o que sou??!!! Subs-tan-tis-sú-per!!
Extraído do livro Farpas e Pétalas. p. 47/48
*Mariazinha é advogada e servidora do IFCE Campus Iguatu