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Crianças com câncer viram super-heróis durante tratamento de radioterapia em Fortaleza

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Batman, princesa, Homem-Aranha e o que mais a imaginação permitir são os novos pacientes do Centro Regional Integrado de Oncologia (CRIO). Não é Carnaval, mas as crianças a partir de dois anos, que fazem radioterapia no ambulatório da rua Francisco Calaça, se transformam em seus heróis e personagens preferidos por uma boa causa. A ação faz parte do projeto Criança Bem-Vinda, com foco na humanização do tratamento dos pequenos. Há dois meses, as máscaras termoplásticas, necessárias à imobilização dos pacientes durante as sessões de radioterapia, ganham cores para evitar o medo dentro do equipamento.

O tratamento, algumas vezes simultâneo à quimioterapia, pode assustar as crianças, como explica a terapeuta ocupacional do CRIO, Patrícia Citó. “Para as pessoas entenderem, em falo muito: se para um adulto é difícil, imagina para essas crianças. A maioria delas vem do interior para um ambiente que não conhece. A máquina é muito grande, com a máscara causava um misto de ansiedade e medo”, diz.

O momento de levá-las ao equipamento era marcado por choro e, em muitos casos, elas precisavam ser sedadas para não se mexerem dentro do equipamento. “Era muito difícil pra gente também que lida com essas crianças. A humanização da pediatria tem sido desenvolvida há uns quatro anos pela equipe de enfermagem, psicologia e terapia ocupacional. Criamos uma ação de não usar jaleco, e um funcionário fez uma miniatura da máquina (de radioterapia) para as crianças se familiarizarem”, aponta Patrícia.

A ideia da pintura das máscaras começou com um funcionário da manutenção, que antes já havia criado a réplica da máquina para as crianças brincarem. Tarcílio de Alcântra Monteiro, 47, é mais conhecido como “Foguinho” e, desde muito tempo, gosta de “fazer arte”. “Eu trabalhei fazendo desenho em parede de quarto de criança, em capacete… Eu acho que desenhar foi um dom que deus me deu”.

O primeiro passo na confecção das máscaras é a escolha do personagem. Depois, Foguinho simula o tamanho do olho, faz o molde e pinta – a parte irreversível, como diz. “Se pintar errado, bota tudo a perder e tem que planejar de novo”, avisa. Apenas um personagem, até o momento, foi recusado. “O Samuel queria uma máscara de lobisomem. Eu falei com a doutora que achava que ia ser muito feio. Aí ele mudou para o Homem-Aranha preto”, brinca.

“Foguinho” decora as máscaras de acordo com o gosto das crianças (FOTO: MAURI MELO/O POVO)

Acompanhado da mãe, Raimunda Nonata da Silva, 37, Samuel, de apenas 8 anos, já está na quinta sessão de radioterapia no CRIO. Diagnosticado com linfoma de Hodgkin, ele ainda tem mais nove sessões pela frente e diz que escolheu o Homem-Aranha porque ele salva o mundo.

Por mês, cerca de seis crianças fazem radioterapia no CRIO. A próxima fase do projeto será confeccionar as roupas dos personagens infantis para compor as fantasias durante o tratamento. “O propósito era exatamente esse, deixar o ambiente mais agradável, brincando com o imaginário da criança. A gente sabe que o câncer provoca muita ruptura na vida, tanto do paciente como da família. É uma forma de compensar um pouco essa rotina de estresse, de medo, e trazer carinho ao paciente”, frisa a terapeuta ocupacional.

A terapeuta ocupacional Patrícia Citó e Samuel (FOTO: MAURI MELO/O POVO)

Rotina
Samuel veio de Ipu com a mãe, que saiu do trabalho como doméstica, para fazer o tratamento contra o câncer. A descoberta da doença ocorreu depois que a mãe, durante o banho, percebeu ‘um alto’ diferente na axila dele, no fim do ano passado. Após ultrassom realizada em dezembro, o diagnóstico veio somente em fevereiro. “O médico disse logo: mãe, seu filho está com câncer, tem que cuidar imediatamente”, diz ela.

Apesar da animação que demonstra hoje com os funcionários do CRIO, Samuel chegou a ficar triste logo no início. “Ele vivia muito tenso, pensando que ia morrer. Ele via minha tristeza e ficava muito preocupado. Quando o médico disse que ele tinha 95% de chance de cura foi uma alegria, levantou o astral dele”, afirma Raimunda.

A família conta com doações para se manter na Capital durante o tratamento do menino. Mãe e filho estão morando em uma casa de apoio na Aldeota, com outras pessoas de Ipu. “Muita gente me ajuda. Só tenho a agradecer a Deus. O Samuel já até comoveu uma pessoa da casa, quando vi a mulher chorando, tomei um susto, perguntei o que ele tinha feito. Aí ela: não, porque ele é só uma criança e fala de Deus tão bem que conforta a gente” , conta.

Fonte: O Povo

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