Saúde

Cirurgia de redução de estômago só é eficaz se o paciente mudar hábitos

Quem já perdeu ou tentou perder peso sabe que não existe fórmula mágica: é preciso praticar atividades físicas e fazer uma reeducação alimentar.  Aparentemente simples, essas atitudes nem sempre trazem resultados satisfatórios para pessoas obesas, para quem as cirurgias bariátricas (que reduzem o estômago e, às vezes, o intestino) têm sido um recurso valioso. 

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Quem já perdeu ou tentou perder peso sabe que não existe fórmula mágica: é preciso praticar atividades físicas e fazer uma reeducação alimentar.  Aparentemente simples, essas atitudes nem sempre trazem resultados satisfatórios para pessoas obesas, para quem as cirurgias bariátricas (que reduzem o estômago e, às vezes, o intestino) têm sido um recurso valioso. 

 

Celebridades como o ex-apresentador do Vídeo Show André Marques surpreendem ao aparecer com quilos a menos após o procedimento. Mas a cirurgia não é milagrosa: ela apresenta riscos e também requer mudança de hábitos. 

Pessoas com IMC acima de 35 kg/m2 portadoras de doenças graves e aquelas com IMC acima de 40 kg/m2 são candidatas à cirurgia bariátrica e metabólica, popularmente conhecida como cirurgia de redução de estômago ou cirurgia da obesidade. Mas o procedimento só é indicado depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamentos clínicos, esclarece o cirurgião Ricardo Cohen, diretor do Centro de Obesidade, Diabetes e Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo (SP).

A obesidade pode ter origem genética ou estar relacionada com distúrbios e medicamentos que provocam aumento de peso, como explica o endocrinologista Mario Carra, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).  Estresse e transtornos psicológicos também aparecem na lista das causas ou, pelo menos, dos elementos facilitadores da obesidade, bem como o fato de a comida ocupar um espaço importante no convívio social. Por essas razões, Carra afirma que a obesidade é uma doença crônica sem cura, mas que pode e deve ser controlada.

Cirurgia da obesidade

O controle é importante porque, quanto maior o IMC, maiores são as chances de aparecerem outros problemas de saúde, como hipertensão, doenças cardiovasculares, artrite e diabetes, para citar as mais frequentes. O câncer é outra patologia associada, embora a ligação entre ambos não seja propagada de forma tão explícita. “Se não houver tratamento, uma hora ou outra aparecerão as consequências. Não existe obeso saudável”, alerta Carra.

No Brasil, são realizadas quatro modalidades diferentes de cirurgia bariátrica e metabólica. A necessidade de perda de peso do paciente (30, 40 ou 50% do peso total), suas preferências alimentares, a quantidade de comida ingerida nas refeições, a presença de outras doenças e a idade são exemplos de fatores analisados para definir qual método será empregado, como informa o cirurgião Almino Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).

Aproximadamente 80 mil pessoas se submeteram ao procedimento no Brasil entre janeiro e setembro de 2013, segundo estimativas da SBCBM. “A cirurgia de redução do estômago é o tratamento que até hoje apresenta os melhores resultados. Entre 60% e 70% das pessoas conseguem manter o peso”, fala Carra.

Em contraposição, segundo Cohen, apenas uma parcela mínima de pacientes obesos e obesos mórbidos – entre 5% e 7% – consegue manter o peso perdido com tratamentos clínicos.

Só a operação não basta

Embora eficaz na maioria dos casos, a operação não é suficiente sem a colaboração do paciente. O cirurgião Marcelo Zidel Salem, do Núcleo de Transtornos Alimentares do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, diz que mesmo com a capacidade do estômago reduzida, a pessoa operada terá que fazer uma reeducação alimentar e praticar exercícios físicos.

Além disso, há necessidade de acompanhamento médico por um longo período. A orientação nutricional e psicológica (em caso de transtornos, como a compulsão alimentar) também faz parte do pós-operatório.  Por isso, os médicos enfatizam que tanto o paciente como sua família precisam estar conscientes disso para que o tratamento seja bem-sucedido.

Procedimento menos invasivo

O Conselho Federal de Medicina (CFM) também aprova o balão intragástrico no tratamento para a obesidade. Assim como as técnicas cirúrgicas que reduzem a capacidade do estômago, esse procedimento também provoca esse efeito e induz a pessoa a um menor consumo de alimentos.

O balão é inserido com uma endoscopia e depois preenchido com líquido (cerca de 500 ml). É um procedimento que não requer internação, feito sem cortes e sem os riscos de uma operação, como informa o cirurgião João Henrique Lima, do Hospital Vita Batel, de Curitiba.

Apesar disso, são comuns os relatos de desconforto abdominal, náuseas e vômitos logo após a colocação do dispositivo. Os sintomas, no entanto, podem ser controlados com medicação, segundo o cirurgião José Afonso Sallet, diretor Instituto de Medicina Sallet, em São Paulo. “O balão intragástrico é um tratamento reversível e o prazo de sua permanência dentro do estômago é de, no máximo, seis meses. O sucesso da terapia depende, essencialmente, do acompanhamento multidisciplinar (médico, nutricionista, psicólogo e preparador físico) para a obtenção de resultados em logo prazo e de forma definitiva”.

É possível perder até 20% do peso corporal, mas como precisa ser removido depois de seis meses, deve haver um trabalho de reeducação alimentar conjunto para que os quilos perdidos não sejam recuperados após a remoção do balão. Caso um novo procedimento seja indicado, o paciente deve aguardar 30 dias, no mínimo, para se submeter novamente à técnica. 

De acordo com Salem, o balão é indicado nas seguintes situações:  a necessidade de perda de peso é menor,  o paciente apresenta alto risco cirúrgico e  a perda de peso inicial pode facilitar o ato cirúrgico definitivo. 

Técnica polêmica

Um novo método de balão intragástrico que não requer o uso de sedativos ou anestésicos foi lançado recentemente no Reino Unido. Em vez de se submeter a uma endoscopia, o paciente simplesmente engole uma cápsula, que infla e se transforma no balão depois de dissolvida.

Sua remoção é feita depois de três meses em ambulatório. Foram feitas muitas críticas ao lançamento do produto, sendo as principais delas relacionadas ao fato de se tratar de técnica simples demais,com potencial para induzir pessoas saudáveis a usá-la com fins estéticos.

 

De acordo com Lima, não há previsão de quando o procedimento chegará ao Brasil. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) terá que aprovar seu uso no país, mesmo depois de liberada a venda do dispositivo na Europa. 

Redução gástrica com desvio intestinal (Bypass gástrico) – A técnica mais realizada no Brasil e no mundo baseia-se no grampeamento (costura) de aproximadamente 85% da capacidade do estômago e na realização de um desvio intestinal, de um a dois metros. “O objetivo é reduzir a fome e diminuir a absorção intestinal de alimentos que favorecem o ganho de peso”, informa o cirurgião Almino Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.

Gastrectomia vertical (Sleeve) – Nessa técnica, a segunda mais empregada no mundo, é feita uma redução de dois terços do estômago, aproximadamente, sem nenhum procedimento intestinal.

Banda gástrica ajustável – Um anel de silicone inflável é instalado ao redor do estômago (na parte alta) para diminuir sua capacidade e, consequentemente, a ingestão de alimentos.

Duodenal Switch – Associação entre gastrectomia vertical e desvio intestinal. Nessa cirurgia, 85% do estômago são retirados, porém a anatomia básica do órgão e sua fisiologia de esvaziamento são mantidas.

Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica

 

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