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Artigo: VIGIANDO PELA PAZ

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Madrugada de 25 de fevereiro de 2022.

Noite curta, os Tetéus (Quero-quero), como se conhece em outras regiões, quase não dormem. Meu pai, Zezim Paraibano, caboclo pescador e caçador, dizia que o pássaro Tetéu, dorme no chão e desenvolveu uma sensibilidade de alerta aguçadíssimo. Dorme com uma das pernas sobre a cabeça, que rapidamente escorrega, fazendo-o despertar e voar gritando, com a sua companhia. Nessa madrugada esses pássaros, vigias dos campos, deram-me o sinal, antes dos Galos.

Desperto com eles, para mais uma das serenas Vigílias. Hoje, pela paz, aqui dentro da casa, no lugar onde nasci e em todos os pontos da Terra em tensão e alerta.

A Ucrânia será síntese da tensão Planetária?

Tudo indica, mas não estou seguro para concordar.

Tudo e toda a humanidade parece contaminada e doente. Muito doente. Carente de UTIs que não existem, e mesmo existindo em quantidade, jamais caberia quem está precisando até de intubação, porque não interessa aos ensandecidos por poder e acumulação de capital.

Sob os ditames da idolatria do mercado, o mundo globocolonizado está inteiramente e
irreversivelmente muito mal. “UTI e Sanatório Geral”, como já cantava Chico Buarque, décadas passadas.

A guerra de mísseis, bombas, e mídias com “comunicadores(as)” também doentes, vítimas da histérica competição e das variadas síndromes de pânico e medo, passam e alimentam a sensação de guerra insinuando possível explosão final de nosso Planeta Terra, nossa única Casa Comum já sob mudanças climáticas impostas pela absurda devastação ambiental. Os empregados do poder midiático, em maioria, subservientes aos senhores do “Mercomundo”, que vai desde o Agronegócio e hidro negócio às malditas fábricas de armas encalhadas; e o sofisticado Sistema Financeiro internacional com seus grupos mafiosos do capital especulativo e suas milícias de todos os tráficos; da mentira institucionalizada, feito facas-fake, aparentemente virtuais, postas na garganta dos países periferizados. Está em curso.

Eles e elas invadem nossos recantinhos, pelas telas e celulares, disparando palavras dúbias, imagens, sempre no roto modelo e cores da barbárie. As lições ancestrais, algumas bem recentes, ao que se indica e se vê, foram lacradas no baú do esquecimento.

As guerras, com seus rangidos, aviões não tripulados, de terríveis efeitos letais, estão aqui e aí, dentro de nossas casas, em nossos pratos, cada vez mais escassos de comida. Suas bombas de poderoso efeito físico, moral, monetário, espiritual, são disparadas na calada das noites ou em pleno meio dia, sempre “em nome de Deus, da democracia, da vida, da família”. Mas de qual Deus? Que tipo de democracia? Qual vida? Que tipo de família?

Essas guerras, minha gente, já foram declaradas contra todas as crias da Terra e seus espaços naturais e jazidas de bens naturais, há séculos!… E hajam ais!

Com outros pastores e líderes religiosos, o Papa Francisco convoca os católicos e quem mais ouve seus apelos, para orar e clamar pela paz. Mesmo com dor agudo no joelho, Francisco vai à Embaixada da Rússia no Vaticano clamar pela Paz e se dispor a ser um mediador para a conquista da Paz.

Diplomatas capazes e experientes, responsáveis e bem pagos, não dormem. Desdobram-se, em horas extras preparando viagens e reuniões de políticos governantes dos chamados países do “primeiro” mundo, os enriquecidos à custa do suor e do sangue dos povos subalternizados. Enquanto isso, continuam os saques das jazidas minerais na Amazônia e suas irmãs; as reservas vegetais e atóis; e massacres das populações indígenas, ribeirinhas, quilombolas; todo o povo preto das comunidades periféricas; multidões jogadas nas ruas; populações LBTQIA+ e todos os passarinhos de nossas regiões e biomas de Gaya, a nossa tão sacrificada Casa Comum, golfinhos de todos os oceanos, nos cinco continentes, e suas lindas ilhas…

Trememos!

Quem pensa que trememos de medo está redondamente (a Terra é redonda) enganado!
Trememos de amor pela Vida diversa e imortal!

Trememos de indignação pelos criminosos impunes, pela injustiça. Indignam-nos os
promotores, procuradores e juízes etc., venais e desmoralizadores da própria Justiça,
defendendo (e não são poucas vezes) grandes bandidos e criminosos eticamente indefensáveis, enquanto facção, em parceria com a banda podre das polícias, segue se esfolando e assassinando inocentes, em sua maioria, jovens e crianças.

Trememos, sim, com nossas mãos que se entrelaçam na luta por terra para morar e cultivar, de maneira saudável, com apoio da ciência das boas causas, em aliança respeitosa com o próprio Saber Ancestral dos Povos e da própria Natureza!

Trememos, dançando e batendo nossos tambores, maracás. Tocando nossos violões e
guitarras. Com nossas juventudes, nossos idosos e idosas; e nossas crianças, seguimos atentos, como os tetéus da caatinga nordestina aos pampas do sul, festejando, em nossos rituais sagrados, a tradição encantadora da Vida!

Trememos, na vibração profunda da Terra, espalhando o aroma de nossas hortas, roçados e jardins familiares, nas veredas, nos rios, nas avenidas e, enfim, por todas as veias e vias,
compartilhando com você, de coração aberto a comida saudável, o vinho do diálogo solidário e respeito. E o oxigênio da Paz!

Vem comigo? Sim?

Então te convido a cantar esta canção, O GRITO É PAZ, que compus em Porto Alegre, no Fórum Social Mundial de 2003.

Ela está no Spotify e no CD Zé Vicente da Esperança – Paulinas – COMEP.

Após o poema-canção, o abraço deste irmão e de todo o sertão do Ceará, com o canto dos
galos da madrugada do Esperançar, não é, Paulo Freire!?

Zé Vicente – zevicentepoeta@gmail.com

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