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ARTIGO – Por que o censo de Quirino não é um mero detalhe?

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Jaquelini de Souza
Doutora em Teologia
Liderança Leiga Luterana em Iguatu

Estimada comunidade, boa noite!

Hoje (19) é dia de acender a quarta vela do Advento, onde lembramos que este Príncipe da Paz, está em nosso meio porque nos amou. E nesta estação do advento, lembramos da viagem que José e Maria fizeram para o nascimento de Jesus, cerca de 156km entre Nazaré na Galileia e Belém na Judeia.
Essa viagem foi forçada devido a ordem imperial de um censo, mas também foi para se cumprir as profecias, principalmente a de Miquéias 5, onde prediz o nascimento do Messias em Belém. Pois todos deveriam se recensear em suas cidades de origem. Geralmente desprezamos o que este censo tem a nos ensinar, e é sobre isto que pretendo aprender junto com vocês.
A história é narrada em Lucas 2: 1-5, onde o evangelista grego, que não conheceu Jesus e que se utilizou de técnicas da antiga historiografia grega para escrever seus livros, que hoje compõe nosso cânon, já começa nos contextualizando sobre onde e quando a história aconteceu: “Naqueles dias César Augusto publicou um decreto ordenando o recenseamento de todo o império romano. 2 Este foi o primeiro recenseamento feito quando Quirino era governador da Síria. 3 E todos iam para a sua cidade natal, a fim de alistar-se.”
Não há registros de censos globais, ou seja, que envolvesse todo o território do Império Romano, durante o governo de Augusto, claramente Lucas transfere um evento local, como se fosse global. O fato é que o censo de Quirino aconteceu, e chamou muita atenção do povo, principalmente por recenseamentos serem proibidos pela lei judaica.
Censos na Antiguidade tinham função completamente diferente da de hoje, não eram para o Estado compreender melhor a situação de seu povo e assim promover melhores políticas públicas. Censos tinham função bélica, contar o povo, para saber a quantidade de guerreiros.
Enumerar o povo, portanto, no caso de Israel, atestaria desconfiança em Deus, que várias vezes provou que seu povo vence não por sua própria força, mas pelo poder de Deus. Como é o caso do cerco de Jericó, as vitórias de Gideão e de Davi sobre Golias. E mesmo este Davi, que vira o poder de Deus, desconfiou, mandou fazer um censo, e pagou caro, com um castigo divino que ceifou a vida de 70 mil homens. (1 Crônicas 21)
Flávio Josefo registra que o censo de Quirino, causou revolta no povo, que liderados, por um galileu, um galileu! De nome Judas, fizeram uma revolta armada, contra o censo, pois consideravam, que o objetivo de Roma, era contar o povo para saber o número de escravos que poderia ter entre os judeus. Josefo também diz que foi Judas, o fundador da seita dos zelotes, nacionalistas que acreditavam na luta armada para expulsar os romanos.
Gamalieu, em seu famoso discurso no Sinédrio (Atos 5), sobre o surgimento da nova “seita”, ou seja, o cristianismo, classificou Judas, o Galileu, como um dos vários “candidatos a messias”, que apareciam naqueles tempos: “35 e disse-lhes: Varões israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens. 36 Porque, antes destes dias, levantou-se Teudas, dizendo ser alguém; a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens; o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada. 37 Depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do alistamento, e levou muito povo após si; mas também este pereceu, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos. 38 E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará.
O censo não é um mero detalhe, ele aponta para o caráter do verdadeiro messias. O rei dos reis eterno, se subjugou às leis de um rei mortal. Este Messias não era um homem poderoso, com sua espada na mão lutando contra a injustiça, mas um feto, prestes a nascer, indefeso, sofrendo a injustiça.
O eterno no finito, o poder na fragilidade, que nunca poderemos entender, mas aceitamos por fé. O Espírito Santo, ao iluminar Lucas que registrasse o censo em seu evangelho, nos quis ensinar que, antes mesmo de nascer, Jesus era o galileu correto a seguir: o príncipe da paz que nasceu no meio de nós. E se Ele está no meio de nós, devemos estar com Ele no meio do povo espalhando seu Reino de justiça e amor.

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