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ARTIGO: Iguatu e os três caminhos possíveis na disputa eleitoral

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Por Erick Willer – Historiador

Penso que todas as pessoas que moram neste território têm sido convidadas a pensar a cidade. Se por um lado, a realidade objetiva projeta os cacos do município em nossa direção, somos, então, forçados a nos posicionar como cidadãos, como aqueles que vivem a cidade.
Vejo as pessoas se posicionando nas redes, nas filas, nos faróis, nas conversas. Para contribuir nesse debate, chamo ajuda de Peter Burke, que diz que a função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela prefere esquecer.

Iguatu parece estar em uma encruzilhada histórica. Nosso destino parece estar posto entre três caminhos possíveis que se materializam na disputa eleitoral, mas que representam uma conjuntura política complexa, produzida a partir das contradições do nosso passado político e as escolhas tomadas pelos iguatuenses de ontem e de hoje.

Como exemplo do que acabo de dizer, no próximo dia 20 de setembro de 2023, acontecerá o julgamento de um dos casos mais significativos no que se refere aos direitos humanos na história da cidade, ocorrido há pouco mais de 10 anos.
Falo do caso dos jovens conduzidos por funcionários e seguranças da prefeitura e o Sargento PM Bandeira à delegacia por entregar panfletos críticos de denúncias de corrupção à gestão municipal do então prefeito Agenor Neto.

Os jovens foram levados a um terreno baldio e sofreram diversas violências. Imagens das câmeras da delegacia foram divulgadas, assim como as fotos dos jovens machucados. As imagens e o caso são de conhecimento público de todo iguatuense e faz parte da memória política coletiva de todo jovem militante que a cidade produziu desde então.

O caso se refere ao passado. Mas é no presente que significamos a história. Pois justo este mesmo senhor coloca como alternativa eleitoral à cidade o seu filho, assim com fez no passado, o seu pai. E é esta a candidatura que infelizmente figuras importantes do Partido dos Trabalhadores têm se posicionado ao lado.

É curioso o governador Elmano, a qual tenho respeito, retirar o mausoléu de Castelo Branco da sede do Governo do Estado e se manifestar em favor de uma candidatura patrocinada por alguém envolvido com caso de tortura no interior que representa uma reedição do coronelismo com pitadas de perpetuação de práticas abomináveis da Ditadura Militar.

Este caso não está isolado no passado. Está atrelado ao presente e é o que nós mesmos, pessoas vivem e pensam a cidade, faremos com a nossa memória coletiva, qual significado daremos a ela, que dirá que tipo de futuro teremos.

Queremos uma cidade de só concreto? Iremos ter um hospital que não mate? Podemos pensar no meio ambiente, na preservação das matas e no combate aos incêndios criminosos? Teremos conforto térmico? Vamos parar de aterrar lagoas? O que faremos com o lixão? Iremos (re)viver o rio Jaguaribe e não retirar areia e jogar esgoto? A cidade ofertará moradias e não falta de direitos? A educação irá além do acesso e ofertará futuro? Nossa cultura vai sobreviver? Nosso patrimônio histórico, irá ruir? Qual perspectiva de mercado de trabalho vamos construir? E a cidadania?

Não me parece que um projeto familiar de poder tenha alguma resposta a dar a todas essas questões. Como não deu respostas para nenhum problema do nosso povo ao longo de toda nossa história.

Para mim, todas essas questões só serão possíveis de serem discutidas com democracia e com pessoas que representem de verdade valores democráticos. Só com liberdade a gente avança.

 

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