Americando

Americando: Perdão; Bálsamo Universal

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“Através das grades olhei pro céu azul
Um pássaro voava do norte pro sul
Me emocionei, pensei: como é lindo a liberdade”
(Dexter, Como vai seu mundo)

É… caros leitores e leitoras, a coisa não anda nada fácil… não mesmo. Não bastasse nossa humanidade falha, uma pandemia que ceifa vidas todos os dias aqui e no resto do mundo, a falta de lógica e caráter de alguns nos levam a querer desistir… Complicado… muito complicado… uma angústia nos invade e para não cairmos em uma negação total temos que recorrer ao perdão. Devemos perdoar para ter paz e também pedir perdão… A pedagogia do afeto ajuda a tocar a vida e não se embriagar tão somente de realidade…

Certa vez, acho que há uns 3 anos antes da covid, fui muito grosseiro com uma pessoa, muito mesmo. Uma situação comum dos nossos dias, eu já estava muito atarefado com outras coisas, com raiva de outras tantas, aí, infelizmente essa pessoa chegou nesse contexto e eu fui grosso. Coisa de ambiente de trabalho. Fiquei mal de imediato e logo depois quando tentei um diálogo percebi que a pessoa estava com muita queixa de mim. Aquilo me perturbou… Ao chegar em casa não me concentrei para fazer outras coisas. Não tive dúvidas, pensei: “vou pedir perdão”. Fui até a casa desta pessoa, mas antes passei em um local e comprei pamonhas e canjicas. Pronto… fui… Cheguei, toquei a campainha, ela abriu e assustou-se!

Jorge Luis Borges, escritor argentino, nos diz: “Yo no hablo de venganzas ni perdones, el olvido es la única venganza y el único perdón.”, de fato, você esquecer te faz um vingador sem intensão primária de vingança e também ao passo que se esquece, inevitavelmente perdoa-se… Assim que ela abriu a porta eu disse sem chances para mais reações além do susto que ela teve ao me ver na porta de sua casa: “Por favor, me perdoe, fui grosso com você e você não merecia”. Ela aceitou, recebeu as pamonhas e canjicas e seu esposo, um senhor muito simpático viu tudo com ternura, por certo já sabia, e também me perdoou…

A vida seguiu até este estágio de coisas ao qual estamos… País atolado em uma balbúrdia só… muitos mortos todos os dias, politicalha, escândalos de corrupção, a idiotice sendo aplaudida de pé, a lógica racional científica sendo ridicularizada por senhores ridículos que nunca tiveram a decência de refletir, apenas pensam, que é algo fácil, refletir é outa história. Acho que a maioria das pessoas veem e não enxergam, escutam e não ouvem… Uma professora certa vez me disse que às vezes é preciso cegar para se ver melhor. O escritor argentino da frase acima era cego…

Preciso perdoar assim como essa minha conhecida me perdoou… Não que eu não tenha perdoado, mas preciso dizer, sim… precisamos dizer que perdoamos… o falar isso faz bem. Preciso ver algumas pessoas e dizer certas coisas… um amigo de longa data que nos desentendemos por ideologias opostas, algo bem comum no nosso país de 2018 para cá em que o falso moralismo, a falta de lógica e a boçalidade reinam… acho que o reinado termina próximo ano… e disseram que iam mudar, que ia ser diferente… sei…

Enfim… conheço uma psicóloga… ela ler meus textos, escuta o que escuto, me disse certas coisas, me revelou outras, leu um diário que fiz para fazer correções de regras para publicação… é algo tipo: “Ela é suave assim: E sabe quase tudo de mim/ Ela sabe onde eu/ Queria estar enfim” (Bob Dylan / versão: Chico Amaral, Tanto (I Want You). O problema é que as pessoas querem certezas, eu só tenho dúvidas…, mas a vida está interessante, apesar dos pesares, covid, políticos toscos boçais, intrigas ideológicas, saudades, conflitos familiares e fatos que a explicação não nos chega…

Um sopro paira em meio ao caos que nos cerca… Belchior nos diz que: “No presente a mente, o corpo é diferente /E o passado é uma roupa que não nos serve mais” (Velha Roupa Colorida). Do passado boas recordações me fazem feliz; do futuro, enquanto muitos temem o desconhecido de nome morte, a tenho enquanto sentimento e objeto de curiosidade… Do presente, acho que O Mestre Santo diz o melhor para nós: “Basta a cada dia o seu próprio mal.” (Mateus 6: 32).

Esse caos vai passar… espero que logo e se aqui estivermos não podemos olhar o que passou sem lição, sem aprendizagem. Uma coisa nesses dias mais do que aprendi, senti: o perdão é um remédio que há na farmácia do universo coletivo interior que cura qualquer mal… Se me conheces, se já fez algo que achas que me feriu, esqueça, liberte-se, te perdoou… passou, e do passado só me vem à memória coisas boas… Agora o que mais me fez escrever esse texto: se alguma vez te magoei com palavras, gestos, omissões e ações, peço-te, não por mim, mas por aquilo que tens em apreço, perdão… preciso disso para tentar ter um pouco de paz… precisamos perdoar e sermos perdoados…

Para encerrar… Encontrei dois amigos. Tivemos uma conversar rápida, até um abraço em um deles dei, fazia tempo que não os via. A conversar foi para um lado em que não concordávamos, não quis mais continuar o papo, saí… Não foi algo bom… No outro dia nos falamos por mensagens, enviei mensagem a ambos me desculpando… Eles aceitaram com muito apreço… foi algo muito bom… A força do perdão é maior do que o ódio, ouvi isso em uma série… Apesar dos pesares, dos desentendimentos banais do cotidiano, no trabalho, em casa e com amigos, o perdão é algo maravilhoso… um balsamo universal…

  • *Por Américo Neto

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