Ambientalistas e bispo Dom Edson visitam rio Jaguaribe

“Não posso respirar, não posso mais nadar”. O trecho da canção Xote Ecológico, do ano de 1989, composta por Luiz Gonzaga em parceria com Aguinaldo Batista pode se aplicar perfeitamente, nos dias de hoje para o Rio Jaguaribe. O sentimento de consternação foi compartilhado por toda a comitiva de ambientalistas, e pelo Bispo Dom Edson de Castro, nesta quarta-feira (08) que visitaram as margens do curso d’água que corta o município de Iguatu.

No popular Rio da Onça, os militantes ecológicos e autoridades religiosas, puderam notar o despejo diário de águas tóxicas produzidas por esgotos domésticos, comerciais, fossas, gorduras, detergente, e resto de alimentos, escoando pelas canaletas diretamente no leito. A visita foi promovida por Neto Braga, idealizador do projeto, Cidadania é Ação; “O preço da liberdade é a eterna vigilância”, onde também é desenvolvidas ações e discutida as temáticas que abrange o meio ambiente.

De acordo com defensor da proteção do rio, a ação predatória da sociedade ao longo dos anos está prejudicando a sobrevivência dos flumens do interior do estado, “hoje ninguém mais diz, ‘vamos ao rio’ em um dia de domingo ou feriado. Se não unirmos forças, esse dizeres jamais serão citados novamente. Precisamos voltar a ser humanos temos que pensar nos nossos filhos, e a igreja católica, pode contribuir muito para disseminar esse pensamento”, assegurou Neto Braga, que comemorou ter agora a força da diocese para enfrentar o desafio.

Para o agrônomo e biólogo, Vandeilton Sucupira, o quadro atual de degradação do rio, são consequências das ausências de politicas públicas voltadas para o meio ambiente, “Iguatu por ser plana tem dificuldade de escoamento de suas águas. E a falta de saneamento básico faz com que diariamente o Jaguaribe aufira da rede de esgoto, lixo sem tratamento das residências de um município de mais 100 mil habitantes e mais 26 cidades por meio de um sistema que era pra escoar somente as águas da chuva. Tudo isso faz a nossa ‘artéria’ está completamente contaminada”, explicou.

Moradora da Rua Beira Fresca na Vila Neuma há 10 anos, Tereza Ferreira da Silva de 74 anos de idade, convive diariamente com as problemáticas da poluição do rio, “moro próximo a um canal que joga esgoto no rio 24 horas. O mal cheiro é horrível e atrai diversos insetos e mosquitos, além de me provocar fortes dores de cabeça, e ardência no nariz. Hoje a realidade é muito diferente, de anos atrás, aqui já foi um lugar de muita beleza”, afirmou Tereza.

Bispo

“Estarrecedor o que vi”, lamentou Dom Edson de Castro, que continuou, “o que encontramos aqui é um verdadeiro lixão de líquido a céu aberto, temos de alguma forma mudar esse quadro e proteger nossa natureza, mas com inteligência sabendo se utilizar da tecnologia e envolvendo as mais variadas esferas governamentais ou não, e é claro aliada à conscientização popular”, alertou. O bispo afirmou que é de interesse da igreja intervir em casos como esses e citou a primeira enclítica escrita pelo Papa Francisco que contém quase 200 páginas, “ele se posicionou preocupado com as mudanças do clima e a poluição condenando a cultura do desperdício onde desconsidera que a água pura e potável seja um direito humano essencial”, finalizou.

O projeto que adotou 580 metros da ribeira tem por meta rearborizar a área com o mato enfezado e bravo – plantas essas naturais da caatinga -, retirar o lixo acumulado nas suas margens, construir uma palhoça onde as escolas possam levar seus alunos em aulas de campo, com espaço necessário para promover encontros religiosos e empresariais, “sonhamos com o dia de poder voltar a reconhecer e diferenciar cada Angico, Arapiraca, Aroeira, e Pau-d’arco desta região”, finalizou Neto Braga. Além de contar agora com apoio da comunidade católica, associações entidades de ensino e instituições não governamentais estão unidas a causa do ‘Cidadania é Ação’.