Entre Olhares: Nas ondas cíclicas da herança do poder

Nikolai Dmitrijewitsch KONDRATIEFF (1892/1938), nascido na província de Kostroma, ao norte de Moscou, foi um economista que deixou como herança para o mundo uma das teorias mais controversas e discutidas entre as nações: a ideia de que haveria ciclos de, aproximadamente, 50 anos nas atividades econômicas que regiam o desenvolvimento do capitalismo industrial. Esta ideia contraria tanto as premissas leninistas da crise geral quanto a posição dos liberais, de prosperidade indefinida da economia. Esses ciclos longos estão intimamente relacionados ao processo de inovação tecnológica.

Fazendo uma grosseira transposição das teorias desenvolvimentistas do economista russo na Década de 20 do Século XX, arrisco-me afirmar que estamos vivendo hoje mais um novo ciclo de renovação e repasse do bastão (ou do cetro) do Poder em nosso país. No livro “a curvatura da banana” (Editora Estação Brasil, 2018), o historiador Marcos Costa nos ensina que “no Brasil, o estamento (teia de relacionamentos diversos dentro do aparelho do Estado que configura o Poder, gerando espoliação, expropriação, lucro para muito poucos e a exploração de toda a sociedade), se renova num ciclo de 30 a 50 anos”. Ao que me parece, a teoria criada há quase 100 anos, é sim verdadeira e aplicável à situação política de nossa Nação, pois é só verificar as candidaturas que estão sendo propostas em quase todos os Estados da Federação do Brasil.

Segundo Costa (2018, p. 11) os políticos brasileiros iniciam as suas relações promíscuas, imorais, incestuosas e degradantes junto ao Estado por volta dos 40 anos de idade. Passados outros tantos 40 anos, são obrigados a promover a sua substituição dada a natural degenerescência orgânica a que são submetidos pela ação do tempo e pela promiscuidade dessas relações. Surgem então verdadeiras convulsões, haja vista o risco que se corre em não ser bem sucedido na pecha do continuísmo inoportuno para todos nós. Não é à toa que somos a Nação dos GOLPES: 1822 – 1850 (Golpe da Independência e suposto fim do Tráfico Negreiro); 1851 – 1889 (Desenvolvimentismo e Golpe da República); 1890 – 1930 (Golpe do Estado Novo); 1931 – 1964 (Golpe da Ditadura)1965 – 1988 (suposta Abertura); 1989 – 2017 (Golpe Temeroso).

E como tudo é continuidade em nossa História, a realidade vivida nos idos de 1872, ano do primeiro Censo, permanece inalterada até os dias atuais: naquela época ficou constatado que 51% dos homens “livres” eram analfabetos. Hoje temos 13 milhões de pessoas nesta mesma condição; 1/3 das casas sem esgoto, são mais de 100 milhões de pessoas que vivem sem o saneamento básico; quase 3 milhões de crianças em situação de trabalho infantil; 50 mil trabalhadores em situação de escravidão; 50% dos trabalhadores registrados ganham no máximo 2 salários mínimos; ¼ da nossa população vive abaixo da linha da pobreza; 13 milhões de pessoas vivem na miséria; 32 milhões de pessoas vivem na informalidade; são quase 700 mil pessoas encarceradas; apenas 5% dos trabalhadores registrados ganham até 5 salários mínimos (menos de R$ 4900). Segundo dados do DIEESE um salário mínimo no Brasil, para ser justo, deveria ser no valor de R$ 3.731,00.

Percebe-se claramente que golpes e contra golpes perpetrados pela elite do atraso são todos com o único fim de não mudar a realidade deste país que ainda hoje é uma Colônia do Imperialismo. Somos um dos maiores mercados de consumo do mundo; temos a maior jazida de ferro do mundo; somos os maiores exportadores nos mais diversos setores econômicos do mundo. Em contra partida, somos um dos maiores importadores do mundo; temos os piores Indicadores de Desenvolvimento Humano do mundo; pagamos os mais altos juros da dívida pública no mundo; temos a maior carnificina do mundo: 60 mil mortos ao ano, número de mortos igual aos da Guerra na Síria e no Iraque; a maior carga tributária do mundo – especialmente relativa ao consumo; o menor orçamento para ciência, tecnologia e inovação; cultura; esporte, cidadania e desenvolvimento; mobilidade urbana; proteção para idosos, mulheres, crianças e adolescentes.

No Brasil o fisiologismo, o clientelismo, o estamento e o patrimonialismo fazem das eleições brasileiras as mais caras do mundo: R$ 30 por voto. Só a título de comparação, na França custa apenas R$ 1,50 cada voto. Em apenas 12 anos os custos das eleições brasileiras foram multiplicados por 6, em função das famosas “doações” de campanha. Só para citar algumas “doações” em milhões de Reais nas eleições de 2014: 111,7 – Odebrecht; 187,5 OAS; 103,7 – UTC Engenharia; 77,4 – JBS; 101,1 – Cervejaria Petrópolis; 33,9 – Banco Itaú; 25,4 – Banco Santander; 66,1 – Banco BTG Pactual; 103,2 Camargo Correia e 6,05 Eike Batista (2010). Como podemos observar “investir” em campanhas eleitorais é o melhor “negócio” do mundo em terras brasileiras.

Vamos nos preparar agora para assistir a mais um espetáculo de passagem do cetro aos novos imperadores.