DIVERSUS: Os donos poder

Quem acompanha jornais televisionados ou tem o hábito de ler os editoriais dos mais conhecidos veículos de impressa brasileiro está acostumado com frases como: “o mercado reagiu mal” ou “o mercado está nervoso” e outras frases envolvendo o frágil humor do mercado financeiro. Afinal quem é esse senhor mercado que é tão sensível a algumas falas e tão firme e calmo em meio à situações consideradas catastróficas?

Há um economista brasileiro que define bem quem é ou o que é o mercado. Resume-se a meia dúzia de bilionários que vivem de investimentos. São os donos do poder financeiro e consequente político, são os donos de bancos privados e grandes ativos que vivem de especulação e juros. Portanto a partir de hoje sempre quando ouvir a frase: o mercado está nervoso, leia-se: as pessoas mais poderosas economicamente desse país estão com medo de perder dinheiro. Esclarecido isso, vamos analisar apenas alguns pontos intrigantes dessa relação do mercado com as situações vividas pelo país e pelo povo brasileiro.

O recém eleito Presidente Lula, em uma de seus primeiros discursos após sua vitória, defendeu o bolsa família fora do teto de gastos; foi o suficiente para o mercado se espernear, todos os jornais noticiaram no mesmo dia a reação do mercado, colunistas, economistas liberais chamados ao vivo na programação para emitirem opinião, um verdadeiro caos. Parecia que essas pessoas que opinavam nos jornais e os próprios donos do mercado não estavam no Brasil nos últimos quatro anos, onde sob a gestão Bolsonaro e Guedes o teto de gastos foi furado em 795 bilhões, fora o caos social vivido pelo povo brasileiro.

Tivemos nesses últimos anos: a volta do Brasil ao mapa da fome, aumento da taxa de juros, quase 700 mil mortes, discurso do chefe de governo contra vacina, falta de oxigênio nos hospitais, pessoas enterradas em valas comuns, desemprego, aumento da uberização, queda nos investimentos, gastança com compra de votos, Guedes com offshore ativo em paraíso fiscal, aumento da mortalidade infantil, escândalo do MEC, dentre tantos inumeráveis escândalos, e a nenhum desses o mercado demostrou sua insatisfação tão voraz quanto quando um presidente que ainda nem tomou posse defendeu um pequena medida social de combate à pobreza. Deixando ainda mais claro que para essa gente, se o caos social não afeta seus lucros, não importa quantos corpos tombem pelo caminho. Não há responsabilidade social no mercado, não há nele também intenção de abrir mão de nenhuma mínima fatia de seus lucros, mesmo que essa mínima fatia sacie a fome de milhões. Não há de se esperar nunca que essa gente abra mão de algo em prol do bem comum, em outra palavras, ou o povo toma para si parte do orçamento que lhe é devido para prover serviços públicos que garantam sua sobrevivência ou nunca haverá a tão sonhada mínima justiça social.

Portanto, a mensagem para os próximos anos é: se o mercado está reclamando, se animem, é um forte indício que haverá ganhos para o povo. Se o mercado estiver satisfeito, acendam a luz de alerta, pois se beneficia a eles certamente nos prejudica. Veremos a mídia falar de mercado como nunca ouvimos falar em nossas vidas, e isso é sinal que algo os incomoda, esse será nosso termômetro, ganhos sociais jamais serão aceitos de boa pelos os donos do poder, basta lembrarmos que os donos do poder da época (1884) eram contrários à abolição da escravidão, pois ela quebraria o país. Sabe o que também quebraria o pais segundo eles? A instituição do décimo terceiro salário em 1962. Que 2023 seja o início da retomada do poder popular e que possamos fazer com que o orçamento público seja colocado a serviço do povo.

*Patrícia Santiago: Colunista, Assistente Social